As instituições que, nas últimas décadas, têm definido políticas para o problema das emissões de gases com efeito de estufa - a UNFCCC ou os G's - têm como principal objectivo assegurar a posição privilegiada dos países industrializados, seguindo à risca toda a cartilha neo-liberal, e colorindo o capitalismo de verde. Em Copenhaga, as tensões entre o Norte e o Sul foram evidentes, como nunca tinham sido noutras cimeiras.
Se Copenhaga foi encarado como um fracasso pelas grandes potências, a verdade é que permitiu colocar de novo na mesa certos pontos fundamentais que, a haver um "Quioto2", teriam sido deixadas de fora. É o caso do mercado de carbono e da dívida ecológica, por exemplo.
Assim, para o movimento ecologista, abre-se uma porta para procurar ganhar maior influência política e social naquilo que é a discussão sobre a justiça climática, mobilizando cada vez mais cidadãos para a luta por outros modelos de sociedade mais justos, social e economicamente, e que respeitem o equilíbrio do sistema terrestre.
Uma das reivindicações mais fortes do movimento ecologista global é o pagamento da dívida ecológica contraída ao longo de centenas de anos pelos países do Norte, cuja prosperidade assentou no roubo dos recursos naturais dos países do Sul. É por esse mesmo motivo que está agendado um Dia de Acção Global pela justiça climática para dia 12 de Outubro, o "Dia de Colombo".
No entanto, o pagamento da dívida ecológica resolveria apenas em parte o problema, já que muitas das "potências emergentes" repetem o modelo de desenvolvimento ocidental baseado no crescimento material, na industrialização intensiva e num consumismo desenfreado, que já provou ser um modelo falhado. Na Europa é uma reivindicação com menor aceitação, pelo que para o movimento ecologista europeu é fundamental definir linhas de acção próprias. A redução do nosso impacte no sistema terrestre só é possível invertendo a tendência de crescimento material ocidental das ultimas décadas – nos países industrializados e nas potências emergentes – promovendo a transição do paradigma de desenvolvimento com crescimento infinito para modelos baseados na qualidade de vida, na democracia e no respeito pelos direitos sociais.
Crise ambiental e crise económica são apenas duas faces da mesma moeda. É urgente, por isso, encontrar novos caminhos, também na Europa, que reúnam as reivindicações de todos aqueles que lutam por maior justiça social, económica e ambiental. A crise económica traz dificuldades acrescidas ao discurso do “decrescimento sustentável”: "No cuts, more growth" é o slogan do apelo à mobilização dos trabalhadores europeus para greves gerais no final de Setembro.
Que transição ecológica devemos promover no Norte que seja socialmente justa? Como conjugar a luta ecologista com a luta laboral? Como defender o decrescimento quando o desemprego aumenta?
No FSE discutiu-se a necessidade urgente de diálogo com o movimento sindical, unindo as vozes em reivindicações como a reconversão da indústria para a produção de bens úteis e sustentáveis (por exemplo no que diz respeito à indústria automóvel), promovendo a mudança sem criar desemprego ou a criação de emprego sustentável - no Reino Unido foi lançada a campanha “1million climate jobs” com o slogan “Emission cuts, not job cuts”. E, porque como Frederic Jameson dizia “É mais fácil imaginar o fim do mundo que o fim do capitalismo”, discutiu-se também a importância de projectos que têm surgido pelo mundo fora onde se concretiza na prática a transição social, como é o caso das “Transition Towns”.
Por isso, o dia 29 de Setembro será também um dia de mobilização do movimento ecologista Europeu, para “impor políticas alternativas, que nos permitam satisfazer as necessidades sociais e ambientais” (Declaração final do FSE 2010).