A extrema-direita no Parlamento Europeu

porAlda Sousa

Conhecer e compreender o discurso antieuropeu e populista da extrema-direita faz parte da clareza que a esquerda tem de ter. Por Alda Sousa

02 de março 2014 - 9:06
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A possível vitória nas europeias da Frente Nacional (Marine Le Pen) em França ou do Partido da Liberdade na Holanda não pode ser menosprezada.

Na Europa vive-se a maior recessão conhecida desde os anos 30. Os governos nacionais e a UE fazem a mais brutal ofensiva de austeridade contra os povos da Europa, o desemprego atinge limiares nuca vistos e, naturalmente, os sentimentos antieuropeus crescem.

Conhecer e compreender o discurso antieuropeu e populista da extrema-direita faz parte da clareza que a esquerda tem de ter.

Até porque essa falta de clareza leva a que, por exemplo, vídeos com discursos de Nigel Farage, líder no PE do UKIP do Reino Unido, se tornem virais e sejam difundidos na internet por muita gente de esquerda, pelo facto de criticar duramente os eurocratas e se opor à UE.

No Parlamento Europeu (PE) atual, a extrema-direita agrupa-se no Grupo Parlamentar EFD (Europe of Freedom and Democracy- Europa da Liberdade e da Democracia), com 31 eurodeputados de 12 Estados Membros, mas dele não fazem parte nem a Frente Nacional de Marine Le Pen nem o British National Party de Nick Griffin, que representam uma direita mais robusta e musculada, que integram os não-inscritos (NI). Os 30 não inscritos não constituem um grupo parlamentar, são um conjunto de delegações heterogéneas maioritariamente de extrema-direita. O Jobbik húngaro, já representado no PE por 3 deputados que tentaram fazer uma parada nazi dentro do PE fazem também parte dos não-inscritos.

Por isso neste artigo optamos por escolher e analisar alguns vídeos com intervenções de atuais deputados europeus, centrando sobre os temas da construção europeia, da crise e do tratado orçamental, da imigração, dos direitos LGBT e dos direitos das mulheres.

No texto constitutivo do grupo parlamentar do EFD, é dado relevo ao facto deste grupo não ser xenófobo nem antissemita, mas simplesmente respeitar a vontade dos povos de cada estado-membro. No entanto é sublinhado o respeito pela história, as tradições e os valores culturais da Europa e o respeito pelas diferenças e interesses nacionais.

Ao analisarmos as intervenções dos deputados desta bancada, eles são xenófobos, anti-imigração, e eurocépticos. O cúmulo disto é representado por Nigel Farage, é contra a imigração no Reino Unido. Chegou a propor uma moratória à imigração no Reino Unido, fazendo com que durante 5 anos seja impossível qualquer imigrante viver e trabalhar no Reino Unido. Além disso, foi contra a entrada da Bulgária e da Roménia na União Europeia ao aclamar que iria trazer horas de pessoas para o Reino Unido, retirando trabalho aos Ingleses, coisa que não aconteceu.

Chegou até a dizer que o aumento de criminalidade na região da Grande Londres se devia à entrada excessiva de romenos e búlgaros, que desde 1 de Janeiro deste ano já podem ter vistos de residência e trabalho em quaisquer pais da União.

Francesco Speroni, da Lega Nord, colega de grupo de Farage lamentou os mortos de Lampedusa, mas frisou que era preciso aplicar regras estritas para a entrada de imigrantes e prevenir invasões e futuros acontecimentos trágicos...

Discurso dos "Não Inscritos"

Marine Le Pen centra grande parte da sua atividade parlamentar "problema" dos Roma no neste assunto tal como a invasão provocada pela entrada dos Países de Leste na União Europeia. De forma mais agressiva, Nick Griffin, centra-se no Islão como o seu grande inimigo. Aliás, chega a dizer que falar da proteção das mulheres da violência doméstica e da violação e não fazer referência ao Islão é como ignorar o elefante branco no meio da sala.

Nick Griffin tem um discurso racista, mas ao mesmo tempo, ataca os bancos e o capital. É uma espécie de extrema-direita anticapitalista. Sempre a bater nos eurocratas, fala da “ocupação da Grécia”.

A menos de três meses das eleições para o PE, as sondagens feitas pela PollWatch indicam que o grupo do EFD e dos não inscritos vai aumentar significativamente. No entanto, pensa-se que será sobretudo à custa das perdas de deputados da direita tradicional, ou seja, do PPE e do ECR. De notar que nessas mesmas sondagens, o GUE/NGL passaria de 35 para 56 eurodeputados, ficando à frente dos Verdes Europeus e não muito abaixo dos liberais (ALDE).

A possível vitória nas europeias da Frente Nacional (Marine Le Pen) em França ou do Partido da Liberdade na Holanda não pode ser menosprezada. Os recentes encontros entre Marine Le Pen e Geert Wilders (partido da Liberdade holandês) parecem querer configurar uma plataforma pós eleitoral, mas para já têm procurado manter as distâncias em relação quer ao Aurora Dourada Grego, quer ao Jobbik. Mas para virem a formar um grupo parlamentar terão de poder contar com pelo menos 25 deputados de 7 países diferentes (um quarto dos Estados-Membros).

Uma esquerda de combate, anticapitalista, tem a obrigação, nestas eleições europeias, de se opor sem qualquer tibieza á Europa do Tratado Orçamental e das troikas, ao mesmo tempo que precisa de resgatar uma outra maneira de pensar e sentir a Europa, em que os povos não sejam postos uns contra os outros, mas em que o internacionalismo e a solidariedade vençam sobre os nacionalismos xenófobos.


Marine Le Pen (Front National)

"Enviar os imigrantes ilegais para casa é a única solução viável e humana"

Marine Le Pen diz que aquilo que se passou em Lampedusa é lamentável e que as mortes são trágicas. Contudo, a única maneira de tentar evitar mais desastres humanitários não é dar o sinal de que quando os imigrantes atravessam o mediterrâneo, arriscam a sua vida e pagam um valor astronómico pela travessia não devem ser compensados com a ilusão que vão poder ficar na Europa. Defende que a política mais humanitária, que a Europa poderia ter, é tornar claro que qualquer imigrante ilegal será deportado. Isto tudo porque no contexto de crise em que a Europa vive, que nem os cidadãos europeus tem acesso à educação, ao trabalho ou às prestações sociais, os imigrantes não podem ser privilegiados.

 

Nick Griffin (BNP)

"Sobre o Aurora Dourada e a Greenpeace"

  

Nick Griffin afirma que tem havido uma grande preocupação em defender um lobby (Greenpeace) que nunca foi eleito e que violou as regras de um Estado Soberano que é a Rússia. Nenhum cidadão russo votou na Greenpeace e eles não têm qualquer mandato democrático. Imaginem o alarido que seria se a Rússia lançasse um ataque sem precedentes a uma organização democraticamente eleita. Ou ter apreendido toda a direção em nome das mentiras que são reproduzidas pelos meios de comunicação que são controlados por pessoas que não foram eleitas. Imaginem que o Putin rasgasse a constituição de parlamentares eleitos democraticamente e começar uma caça às bruxas. É isto que está a acontecer ao Aurora Dourada, que os burocratas europeus estão a tentar liquidar.

"Os militantes homossexuais não tem o direito a tentar convencer outras pessoas para a homossexualidade"

  

Nick Griffin: "Eu peguei no BNP há 10 anos, um partido que condenava a homossexualidade e dizia que devia ser criminalizado. Hoje a posição do BNP é que o que as pessoas fazem na privacidade da sua casa não é assunto do Estado ou da sociedade. Mas há uma coisa que tem que ser clara, é que os militantes homossexuais não podem ter o direito de tentar convencer outras pessoas a serem homossexuais. Isso é perverso".

Nigel Farage (UKIP)

"Imigração descontrolada não é justa para o povo britânico"

  

Nigel Farage: "Se eu acho que a imigração descontrolada é justa para o povo britânico? Acho que não. É injusto e está mal. O que esta cidade está a passar, é algo de muito ilustrativo. Nos últimos 15 anos houve uma explosão da população que é um efeito direto da nossa participação na União Europeia. Desde 2011, o número de cidadãos europeus que vivem em Boston (cidade inglesa) aumentou, oficialmente, em 467%. Mas sabemos que estes números estão errados porque sabemos que mais de 10.000 cidadãos do leste europeu vieram para cá. Mas temos que ser sérios. Este país sempre acolheu bem, e deu as boas vindas a pessoas que vem para cá de todo o mundo  de diferentes culturas, diferentes religiões etc. Fazemos isto desde a Segunda Guerra Mundial. O problema é que o número de imigrantes hoje em dia é de meio milhão por ano e vemos que os nossos hospitais, a nossa segurança social, as nossas creches não aguentam este fluxo".

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