O que é a Marcha Mundial das Mulheres (MMM)?
A Marcha é um movimento feminista internacional que se construiu ao redor de uma plataforma de reivindicações contra a violência sofrida pelas mulheres, uma violência sexista e patriarcal e contra a pobreza das mulheres, em todo o mundo.
Assim, construímos uma plataforma internacional de reivindicações que reúne mulheres de 5 continentes e que vivem em situações muito diferentes, desde a Europa às Américas, até África, Ásia, mulheres de regiões bastante conflituosas.
É um movimento que se constrói a partir das organizações de base. As mulheres que são trabalhadoras, mulheres de camadas sociais bem humildes, também mulheres camponesas, combinam a luta contra o patriarcado e o sexismo, a luta de classes e também a luta contra o racismo. Encontram-se assim, nesta intersecção de contradições.
Quero também falar de algo que julgo muito importante – nós consideramo-nos um movimento social que trabalha em aliança com outros movimentos sociais e assim nos encontramos em várias ocasiões na luta contra o capitalismo, contra o neoliberalismo e também nos encontros internacionais onde tentamos elaborar uma estratégia comum aos vários movimentos sociais.
Quero também dizer que somos um movimento feminista totalmente auto-gerido e auto-financiado e isto é algo bastante original ou contra-corrente.
A Marcha começou a ser construída por iniciativa da Federação das Mulheres do Quebec, que convocou a primeira reunião internacional que aconteceu então em 1998.
Este ano decorrerá a III Acção Internacional da Marcha Mundial das Mulheres. O que é que vai acontecer?
A acção começará agora a 8 de Março e durará até 17 Outubro que é o dia de luta contra a fome e a pobreza no mundo. Contam-se três períodos com mais concentração de acções.
O primeiro período é agora, de 8 de Março a 18 de Março, com acções nacionais ou locais, com marchas, caravanas... Onde as mulheres passam, nas cidades, nos vários pontos, vão fazendo diversas iniciativas culturais e políticas, acções de rua, artísticas, de sensibilização. O seu desenvolvimento depende da cultura política de cada país.
O segundo período corresponde a encontros ao nível continental. Um na América-latina, na Colômbia, com as mulheres que estão a lutar contra a militarização do seu país – aí haverá uma concentração de mulheres de toda a América-latina.
Aqui na Europa, escolhemos a Turquia - Istambul como ponto de encontro, onde iremos trabalhar nos quatro campos de intervenção da Marcha.
Quais são esses eixos de intervenção política da III Acção Internacional?
Dois deles são mais tradicionais ou comuns, como o tema da violência patriarcal e da importância do trabalho e da independência económica das mulheres.
O terceiro campo tem a ver com a questão dos bens comuns, tudo o que diz respeito à defesa do meio-ambiente visto como património da humanidade e não como mercadoria.
O quarto campo de acção diz respeito às mulheres em regiões de conflito, portanto, é sobre a desmilitarização e a construção da paz.
Tudo isto, naturalmente, visto a partir de uma perspectiva de género, do modo como as mulheres enfrentam as situações de conflito, mas também como sendo protagonistas nestes vários campos de acção.
Este ano comemora-se também o centenário da proclamação do Dia Internacional da Mulher por Clara Zetkin, em Copenhaga. Qual o balanço das lutas feministas destes cem anos?
A luta feminista expandiu-se muito a nível geográfico, essa é também a riqueza da Marcha Mundial, mas não só.
Agora há mulheres em África, na Ásia que se reconhecem como feministas, estão a lutar pelos seus direitos, nas suas sociedades, do seu modo. Porque claro que há muitas maneiras de ser feminista, não há uma maneira só.
Assim, há essa riqueza de luta que avançou muito no mundo todo, enquanto que no tempo da Clara Zetkin era uma questão mais presente na Europa e na América do Norte.
No que diz respeito aos nossos direitos aqui na Europa, claro que conquistámos algumas coisas mas os direitos e a liberdade da mulher nunca são certos, ou estão garantidos.
Agora mesmo, no momento presente, assistimos a grandes ataques por parte da direita e também por parte do Vaticano e da hierarquia eclesiástica, como por parte do fundamentalismo islâmico, contra os nossos direitos.
Temos sempre de estar muito alertas e organizadas para combater isso.
Nadia Demond é uma feminista italiana, integra o Comité Internacional da Marcha Mundial de Mulheres e é membro do seu Secretariado Europeu.
“Agora há mulheres em todo o mundo que se reconhecem como feministas”
07 de março 2010 - 0:00
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