Esta quarta-feira foi apresentado o relatório “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências”, coordenado pela Fundação José Neves e produzido em conjunto com equipas de investigadores da Universidade do Minho e da Universidade de Aveiro.
De acordo com a publicação, em 2010, o salário médio de um jovem licenciado na faixa etária dos 24-35 anos era de 1537 euros. Em 2018, esse valor diminuiu para os 1280 euros, o equivalente a uma descida de 16,7%. Já a média salarial total nesta faixa etária, e independentemente da escolaridade, caiu 4%. Tendo em conta o nível de escolaridade, é possível identificar as assimetrias: o decréscimo foi de 8% para quem tem o ensino secundário, 7% para quem tem o pós-secundário, 17% para os licenciados, 10% para quem fez mestrado e 13% para quem completou um doutoramento. Acresce que a probabilidade de os jovens estarem empregados é muito semelhante entre os diferentes níveis de ensino, principalmente entre os homens.
Os investigadores assinalam que, ainda que os portugueses estejam mais qualificados, há desajustamento entre a educação e o mercado de trabalho: “Uma parte substancial dos jovens com ensino superior não está empregada (19,4%) ou está a trabalhar em ocupações que não exigem este nível de ensino (15%), um indicador de que as competências que adquirem não encontram valorização adequada no mercado de trabalho”, lê-se no relatório.
Portugal tem o maior gap inter-geracional da UE nos níveis de qualificação
De acordo com os autores deste estudo, “enquanto três em cada quatro jovens adultos têm pelo menos o ensino secundário completo (75,2%), nem metade dos adultos mais velhos concluiu esse nível de ensino (46,5%)”.
“Esse gap inter-geracional de quase 29 pontos compara com 7,9 pontos na média europeia e é o maior de todos os estados membros”, alertam.
No entanto, são poucos os adultos que participam em Portugal na aprendizagem ao longo da vida. E a maioria daqueles que participam tem um nível de educação de base mais avançado: “Em 2019, foram apenas 10,5% os portugueses que participaram em educação e formação ao longo da vida, um valor que desceu ligeiramente na última década. Os que mais participam são os mais qualificados (21,2%), enquanto entre os adultos menos escolarizados apenas 4,2% participa em aprendizagem ao longo da vida”.
Mulheres são mais qualificadas mas ganham até menos 38%
“As mulheres são mais qualificadas do que os homens, mas a disparidade salarial continua a penalizá-las independentemente do nível de educação e área de estudo”, lê-se no relatório. A disparidade salarial entre géneros é ubíqua e atingia os 28%, 38% e 32% entre os que têm o ensino secundário, licenciatura ou mestrado, respetivamente, sempre a favor dos homens.
Os investigadores analisaram ainda o efeito covid, concluindo que a pandemia acelerou o potencial de desigualdade, sobretudo em termos de idades e qualificações.
Em contexto pandémico, o emprego mais penalizado foi o dos jovens, dos menos qualificados e dos trabalhadores de alguns setores de atividade, como alojamento, restauração, agricultura e serviços administrativos. A probabilidade de ficar desempregado subiu cerca de 70% para jovens, 50% para os trabalhadores menos escolarizados e duplicou para os trabalhadores do setor do alojamento e restauração.
As bases de dados mais utilizadas neste estudo foram o Inquérito ao Emprego e os Quadros de Pessoal. Mas, segundo explicaram os seus autores ao jornal Público, em vez de serem utilizadas as médias apuradas pelo ministério, com referência aos valores nominais ilíquidos, foi apurado o valor do salário médio real bruto a partir das pessoas ao serviço que ganham pelo menos 80% do salário mínimo/hora e tendo em conta as prestações regulares, o índice de preços do consumidor e o número de horas trabalhadas.