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“Se as políticas atuais se mantiverem, todos os ganhos sociais conquistados nos últimos anos serão perdidos”
O economista Carlos Farinha Rodrigues apresentou o painel “A desigualdade económica em Portugal” do Colóquio “Desigualdade e Pobreza”, organizado pela concelhia do Bloco de Esquerda, que teve lugar este sábado no Fórum Lisboa.
Durante a sua intervenção, o professor do ISEG analisou a “evolução recente da desigualdade em Portugal e o papel das políticas redistributivas na distribuição do rendimento” e a “eficácia e a progressividade das políticas públicas no combate às desigualdades e à pobreza”.
Para Carlos Farinha Rodrigues, “a desigualdade e a pobreza correspondem a dimensões diferentes associadas ao fenómeno da distribuição de recursos entre a população”, sendo que “não só existe uma relação clara entre pobreza e desigualdade em Portugal como um dos fatores da pobreza no nosso país é a existência de uma sociedade profundamente desigual”.
“A desigualdade é um dos fatores que explica, que potencia e que propaga no tempo as situações de pobreza”, reforçou o economista.
Conforme adiantou Carlos Farinha, até 2009 - ano que constituiu um verdadeiro "ponto de viragem", e ainda que não tenham existido políticas concertadas de combate às desigualdades, “as políticas de combate à pobreza permitiram alguns ganhos na redução da desigualdade”.
O economista salientou a importância das pensões e das transferências sociais na redução da pobreza e da desigualdade e frisou que, ao contrário do que tem vindo a ser defendido pelo executivo do PSD e CDS-PP, “temos pouco Estado Social”.
“Se as políticas atuais se mantiverem, todos os ganhos sociais conquistados nos últimos anos serão perdidos”, alertou Carlos Farinha Rodrigues.
Situações de pobreza e vulnerabilidade sociais na cidade
Catarina Cruz e Paulo Costa Santos, representantes do Observatório Luta contra a Pobreza na Cidade de Lisboa, deram conta das situações de pobreza e vulnerabilidade sociais na cidade, frisando a “gravidade das situações analisadas” e a necessidade de implementar “estratégias que tenham em conta as novas realidades que conhecemos”.
Os representantes do Observatório salientaram que as situações de extrema carência na cidade de Lisboa se agudizaram e que o “próprio Estado reconhece que não está a contribuir o suficiente” para o bem estar dos cidadãos e das cidadãs, utilizando como último recurso o Rendimento Social de Inserção como forma de garantir a sobrevivência dos mesmos.
Porque falham os planos de combate à pobreza?
Alfredo Bruto da Costa, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, encerrou o painel “A Pobreza”, dedicando-se ao tema “Porque falham os planos de combate à pobreza?”.
Para o Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, é necessário assegurar um “ataque múltiplo e simultâneo às carências das famílias, dado que as mesmas estão interligadas e se reforçam”.
Combater a pobreza deve passar por “resolver as privações”, adiantou Alfredo Bruto da Costa, adiantando que, para tal, é preciso ter em conta que a assistência, que distingue de assistencialismo, tenha em conta a urgência das necessidades e que assuma um caráter transitório, mantendo-se em vista a “autonomia dos rendimentos”.
É ainda necessário garantir uma “redistribuição do poder”, defendeu Bruto da Costa.
“A pobreza em Portugal não se resolve só com políticas sociais”, destacou, avançando que é necessário ter em conta outros fatores, como a Educação e formação profissional, o mercado de trabalho e sistema de salários, a Segurança Social e Saúde, o combate à desigualdade.
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