China: assassinato de líder provoca levante em Wukan

17 de dezembro 2011 - 1:23

Xue Jinbo, 42 anos, morreu quando estava sob custódia da polícia. População luta contra a apropriação de terras por funcionários corruptos do PCC em conluio com construtores locais.

porTomi Mori

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Manifestantes exibem foto de Xue Jinbo

A população de Wukan, na cidade de Shanwei, na costa da província de Guandong, está a protagonizar um dos mais importantes levantes desde que o movimento democrático chinês foi massacrado pelos dirigentes do Partido Comunista Chinês na Praça da Paz Celestial, em 1989.

A revolta foi desencadeada pela morte de Xue Jinbo, 42 anos, líder da comunidade, às mãos da polícia chinesa. Os seus familiares acusam as autoridades de infligir uma morte brutal a Xue Jinbo, cujo corpo apresentava marcas visíveis de agressão e outros abusos.

Desde setembro, a população de Wukan está a travar uma luta contra a apropriação de centenas de hectares de terras por funcionários corruptos do Partido Comunista em conluio com os construtores locais, que se transformaram, nos últimos anos, num setor importante da nova burguesia chinesa.

A província de Guangdong, berço da revolta, é atualmente uma das principais regiões industriais do planeta, desde que as multinacionais se instalaram para superexplorar a jovem mão de obra chinesa, criando um poderoso proletariado que vem desenvolvendo inúmeras mobilizações.

As contradições sociais, cuja maior prova é a desigualdade social entre a nova burguesia chinesa e também dirigentes da burocracia comunista, de um lado, e a maioria da população que continua na miséria, por outro, tem provocado uma fantástica mobilização cujos números, mesmo os mais modestos, são impressionantes. Em 2010, foram nada menos que 180 mil mobilizações, entre greves, protestos e confrontos, ainda que as autoridades chinesas digam que o número é bem menor.

Xue Jinbo morreu quando estava sob custódia policial. A polícia alega que a causa da morte foi uma falha cardíaca.

A população de Wukan, frente ao evidente assassinato de Xue Jinbo, revoltou-se, tomando o vilarejo e organizando protestos com milhares de participantes.

Após a revolta, a polícia mantém Wukan cercada e impede, inclusive, a chegada de alimentos. A palavra Wukan foi apagada da Internet para impedir que milhões de chineses possam obter informações sobre o levante.

A população local montou barricadas de defesa usando, inclusive, bilhas de gás, temendo novas prisões e repressão ao seu movimento.

As autoridades negam-se a entregar o corpo de Xue Jinbo, para que se possa fazer o seu funeral, o que os revoltosos interpretam como uma prova de que a polícia tenta esconder o assassinato.

Grupos de direitos humanos e a Amnistia Internacional exigem uma investigação independente sobre a morte de Xue Jinbo.

A revolta de Wukan ocorre num momento especial da história moderna, onde em vários países as massas fazem levantes para derrubar ditadores, como é o caso da revolução árabe. Enfrentam-se também com os governantes que querem impor pacotes de austeridade recessivos, como no caso de diversos países europeus. Rebelam-se inclusive contra novos déspotas políticos, como é o caso do russo Putin. E pode ser, inclusive, o início de uma nova revolução chinesa, já que a cada dia se torna evidente que, mais cedo ou mais tarde, chegará também a vez dos ditadores chineses, que mantêm oprimida a maior população do globo. Mas essa não é uma preocupação que tire o sono apenas dos dirigentes do Partido Comunista Chinês. Uma nova revolução chinesa, que se avizinha, devido ao peso que a China assumiu na divisão internacional do trabalho, coloca em xeque a própria existência do sistema capitalista, já que o colapso chinês, dependendo de como ocorra, teria uma repercussão profunda no desenvolvimento histórico.

Onda de greves não para

Na semana passada, cerca de 2 mil trabalhadores da Hitachi de Shenzen, no sul da China, estavam em greve lutando pelos seus direitos.

Também em Xangai, cerca de 400 trabalhadores da Hi-P International estavam em greve, resistindo à forte repressão policial,

Essas mobilizações fazem parte da lutas recentes dos trabalhadores das províncias de Guandong, Zhejiang, Shangai e Jiangsu.

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Tomi Mori