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Mudar o rumo da gestão da TAP
Estamos em agosto de 2022 e as consequências prejudiciais do Plano de Reestruturação1 da TAP estão cada vez mais evidentes. No dia 16, assistimos a mais uma manifestação de trabalhadores da TAP, agregando técnicos de manutenção, pilotos e tripulação de cabine. O motivo é óbvio: estão desgastados, com perdas salariais desde há mais de um ano e há falta de pessoal.
Mas é importante recordar como se chegou a esta situação. A pandemia trouxe desafios nunca antes vistos para o setor da aviação civil. Com restrições a nível global, foram muitos os meses em que a atividade esteve praticamente parada. Isso afetou todas as companhias aéreas, e a TAP não foi, de todo, exceção.
No entanto, a gestão privada piorou ainda mais o momento vivido, não tendo assumido nenhuma solução para tentar colmatar os efeitos da pandemia. Em 2020, havia uma solução: nacionalizar a TAP2. E foi correta. A importância estratégica da empresa assim o ditava, bem como o facto de poder ser utilizada como um ponto fulcral numa política mais abrangente de transportes.
Mas a forma como o Governo lidou com todo o processo deixou sempre muito a desejar. Falou-se de um processo de reestruturação que teria que ser aprovado por Bruxelas para auxiliar a TAP, mas este tardou quase um ano a ser do conhecimento público e dos próprios sindicatos e comissões de trabalhadores.
Foi o próprio ministro Pedro Nuno Santos que, em junho de 2020 dizia que “os despedimentos não têm que ser inevitáveis. Há várias formas de fazermos uma reestruturação da empresa. O que ela tem é de ser feita com os sindicatos e há várias formas de fazermos isso. Os sindicatos têm várias sugestões e propostas”.
Ora não foi nada disso que se passou. Enquanto o Governo dizia que estava a trabalhar no tal plano, estava já a despedir trabalhadores. Além disso, em outubro desse ano o governo indicava que seriam despedidos 1600 trabalhadores, para em dezembro dizer que a redução seria maior.
Na altura, avisamos: estávamos perante um plano de reestruturação desadequado, muito mais conservador do que as previsões internacionais de retoma de tráfego aéreo e que punha em causa a própria sobrevivência da TAP no futuro, por estarem a ser despedidos demasiados trabalhadores e trabalhadoras.
Bom, meio dito, meio feito. Chegamos a 2022 e, ainda antes das datas inicialmente previstas para a retoma do tráfego aéreo, já se começavam a perceber as dificuldades na operação por falta de trabalhadores. Aliás, chegou-se ao cúmulo de, em maio de 2022, estarem a ser contratados trabalhadores que haviam sido despedidos ao abrigo do Plano de Reestruturação.
As manifestações de trabalhadores têm-se multiplicado nos últimos meses. O que está em causa é a gestão da TAP e o papel que o Governo tem que ter nesta matéria. O Plano de Reestruturação, como tantos e tantas alertaram desde cedo, estava errado e as consequências foram despedimentos de milhares de pessoas e dificuldades para a gestão da operação da TAP atualmente.
O Governo sempre quis fazer muita propaganda com a importância do papel estratégico da TAP, mas a prática foi contrária ao que era necessário para salvaguardar a empresa. Desrespeitou trabalhadores durante todo este processo, fez com que os e as viajantes também saíssem prejudicados.
Ainda é possível, e necessário, mudar o rumo da gestão da TAP. Mas para isso, é preciso que o Governo e a administração da TAP ouçam os trabalhadores e adequem a estratégia da TAP ao seu papel central para o país. O Partido Socialista da maioria absoluta já deu sinais de que fará gestão de muitos serviços como o privado faz, mas é preciso deixar bem claro que, no caso da TAP (como em tantos outros), as gestões privadas foram as que arruinaram serviços e ajudaram a desmantelar empresas outrora públicas e importantes para o país.
Que se tenha a coragem de, finalmente, ouvir estes milhares de trabalhadores e trabalhar com eles e elas para garantir um futuro da TAP que sirva o país e a economia.
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