João Ricardo Vasconcelos

João Ricardo Vasconcelos

Politólogo, autor do blogue Ativismo de Sofá

Novas franjas de inconformismo e de sede de mudança estão a surgir onde menos se espera. Compete à esquerda agarrar estas oportunidades de crescimento.

De um lado, os duros alemães e os algo tontos franceses e, do outro, os irresponsáveis e endividados da Europa do Sul. Então e o resto da Europa, qual o seu papel nesta novela?

As manifestações que amanhã ocorrerão em todo o mundo são apenas um exemplo de que esta crise também consegue despertar consciências e gerar desenvolvimentos com alcances dificilmente previsíveis.

Não é fácil perceber esta lógica dos brandos costumes da opinião pública. Sobretudo quando parecem ter sido há muito ultrapassados todos os limites à dignidade e quando se tornou claríssimo que os sacrifícios não são para todos.

Fazem falta instrumentos e pontos de referência que nos permitam aferir realmente o dimensão das medidas tomadas e a dimensão dos problemas ou das “gorduras” que pretendem atacar. Neste sentido, que tal ter como referência aquele pequeno buraco de 2.400 milhões de euros do negócio BPN?

Numa lógica muito cristã, assume-se que o sacrifício é o caminho necessário para o perdão pelos erros cometidos e para a recompensa futura.

Uma vez que o Governo tão prontamente se dispôs a fornecer informação sobre as nomeações governamentais, do que está à espera para o fazer nos processos de privatizações que se avizinham? E a nível da dívida pública, do que está à espera para avançar com uma auditoria nestes domínios?

Este ano não há direito a silly season. Pelo contrário, tudo o que se está a passar é de tal forma grave que não permite descanso. Um Verão tão Quente que não convida a banhos.

Não é de admirar que, num curto ápice, a direita política esteja a conseguir fazer passar uma série de medidas que há muitos anos ambiciona.

O corte de rating é infelizmente mais um murro no estômago de todos aqueles que, para não variar, andam a pagar a crise em Portugal. Mas representa sobretudo uma bofetada ideológica nos sectores que defendem que o problema se resume a termos vivido “acima das nossas possibilidades”.