Renovação e debate no Bloco de Esquerda: o que deveria ser importante!

28 de June 2011 - 0:45

Contributo de João Pedro Freire

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A renovação do Bloco de Esquerda diz respeito, em primeiro lugar, a todos os bloquistas. Sem dúvida!

Mas a renovação do Bloco de Esquerda é também uma parte de um processo mais amplo de renovação de toda a esquerda socialista e anti-capitalista. É uma renovação que tem de sempre de suplantar qualquer fronteira partidária dessa esquerda.

A esquerda, quer desde um ponto de vista político-eleitoral, quer desde um ponto de vista da intervenção social, é sempre muito mais que a soma dos aderentes/militantes deste ou daquele partido.

A esquerda deveria ser entendida como um imenso movimento social plural mas convergente. Se assim fosse, há muito que consignas como "governo de esquerda" ou "alternativa de esquerda" teriam passado de um conjunto de palavras para algo de concreto e, por isso, mobilizador.

A esquerda afirma-se, como alternativa, quando demonstra capacidade de mobilização no plano das lutas sociais e laborais. Mas perde-se, enquanto alternativa, quando cede aos circos eleitorais da caça ao voto encenados pelas democracias liberais.

Uma alternativa de esquerda de governo precisa de partidos que saibam convergir. Mas também dispensa partidos que continuam a pensar que essa alternativa é um exclusivo de "vanguardas", de um qualquer purismo ideológico ou dos votos que um/uns podem ter mais que outro(s).

A alternativa de esquerda precisa de beber forças nos movimentos e nas lutas sociais. Tem de partir sempre desse plano. É por aí que pode ter capacidade de ganhar a maioria social. Sendo que o desafio é que essa maioria social assuma, à esquerda, protagonismo político.

A esquerda parte do protesto social, mas precisa urgentemente de ganhar capacidade de afirmação como alternativa de governo. Governar para mudar, governar para colocar a urgência de políticas socialistas onde têm imperado políticas pró-capitalistas. Governar para provar que é possível gerir o mercado fora da lógica da chamada "economia de mercado", i.e. capitalismo.

Este debate interessa ao Bloco de Esquerda. É este debate que deveria mobilizar o Bloco de Esquerda, depois da derrota de 05 de Junho. É um debate que diz respeito a bloquistas e a qualquer mulher e homem, jovem ou menos jovem, que se posicione à esquerda.

O Bloco de Esquerda deveria dar o exemplo organizando um debate que suplantasse a sua organização partidária, abrindo esse debate a quem quisesse participar. E essa abertura deveria reflectir-se na convocação de uma Convenção Nacional Extraordinária.

Uma Convenção para discutir políticas, para discutir perspectivas políticas com um sentido democrático, socialista e anti-capitalista.

E, só com este debate e com o decorrer deste debate, é que se poderia ou não colocar a necessidade de eleição de uma nova direcção política.

O Bloco de Esquerda precisa de debate aberto. Mas precisa também de muita e muita transparência. Transparência ao nível da clarificação de quais são as forças/partidos/associações que se têm apresentado, desde a fundação, como a "maioria", a direcção política, aparentemente homogénea, mas, de facto, muito heterogénea. Essa clarificação seria também uma parte importante e uma consequência do debate.

Tudo isto, para que seja possível - porque é! - uma alternativa de esquerda de governo!

João Pedro Freire

Militante do Bloco de Esquerda - Matosinhos