Está aqui

Responsável pelo TugaLeaks constituído arguido

Rui Cruz, responsável pelo site Tugaleaks, foi constituído arguido e afirma não perceber de que está a ser acusado. Por Pedro Pinto, publicado no Pplware
Rui Cruz: "Enquanto aguardo as cenas dos próximos capítulos, vou relendo o conteúdo dos meus projetos sem nunca encontrar o 'crime' de que sou acusado e me foi meio-contado." Foto retirada do site PPlware

Segundo informações divulgadas no próprio site do responsável pelo TugaLeaks (projecto nacional idêntico ao WikiLeaks), Rui Cruz fez saber que foi constituído arguido. No site TugaLeaks podemos encontrar várias divulgações sobre atividades levadas a cabo por grupos de hackers como é o caso dos Anonymous Portugal ou lulzsec.

Em declarações ao Público em dezembro, a propósito dos ataques informáticos em Portugal, Cruz afirmou que “o Tugaleaks nasceu porque era – e é – o único canal de media alternativo a publicar notícias sobre movimentos ativistas e hacktivistas”. Na altura, afirmou que “o Tugaleaks não está nem a favor nem contra os alegados ataques”, acrescentando, porém, que “os grupos de hacktivistas estão a impulsionar o acordar do povo com ataques a alvos cada vez mais notórios.”

Aqui fica a informação divulgada no próprio site de Rui Cruz

No passado dia 8 de Março, logo às primeiras horas da manhã, fui acordado por quatro simpáticos e anónimos inspetores da PJ – só um se dignou identificar-se. No dia Internacional da Mulher, e dado o meu estado de solteiro, teria sido mais simpático enviarem inspetores de sexo feminino mas só veio uma.

Enquanto me “arrumavam” a casa – tudo no estilo “Feng-Shui” – fui questionado sem nunca conhecer os motivos que se escondiam por detrás de tão agradável e matutina visita (nota: para a próxima, sff, tragam-me o café e os jornais da manhã, obrigado).

Não fosse o incómodo e a humilhação, a cena até podia ter sido retirada do guião de uma telenovela do Moita Flores. Mas não. Afinal, o meu perfil acho que nem corresponde sequer ao das personagens habitualmente imaginadas pelo ex inspetor da Policia Judiciária: solteiro, ativista sem partido político, sem enredos amorosos, etc.

Ah., é verdade, sou membro do extenso, horrível e causador de tantos distúrbios à vida pacata dos cidadãos e ainda volta e meia extremista clube dos tais 99%. Não sei se isso ajuda a meu favor ou se quem lê isto percebe ironias, mas está dito.

E assim passei quatro horas. Embora em Angola na idade média um arguido fosse “um simples objeto do processo e nada mais, podendo ser alvo de humilhação, coação e da tortura”, aqui em Portugal temos efetivamente um melhor serviço para com a justiça, nem que seja por não estarmos na idade média. Mas ainda assim não devemos ter direitos suficientes, já que os senhores inspetores nem sequer se deram ao trabalho de se preocupar com os meus. Durante quatro longas horas, não tive a possibilidade de procurar conselho junto de um advogado (bem que eu queria um do estado, já que sou dos 99%) ou de contactar a família, colegas… ninguém. Ali fiquei, com o auspício da minha consciência, roído pelo stress e com fracos conselhos de e para mim próprio.

Sem entrar em detalhes – o que hoje me é proibido – concluo que tudo o que faz bip, tem botões e luzinhas pode interessar para a Justiça.

Sem nunca abordar os detalhes do caso (facto que sublinho), contactei um amigo a quem perguntei se as minhas atividades na internet tinham algo de ilegal. O Tomé Mendes sabe que aqui ando desde há muitos anos e acompanha, mais ou menos, aquilo que vou fazendo na Web em alguns projetos:

“Não sei tudo o que fazes na Internet. Mas em todos os teus projetos de que tenho conhecimento, não vejo nada de mal. Não vejo nada de criminoso,” respondeu. O Tomé acrescentou ainda que “o Tugaleaks é certamente o que mais problemas te pode trazer. Mas isso é porque escreves coisas que muitos não queriam ver divulgadas”.

Agora, mais calmo, recordo as palavras de um outro amigo – por sinal jornalista: “Portugal é um país de arguidos, a única coisa que os diferencia é o acesso que têm, ou não, à verdadeira Justiça”.

Passadas quase duas semanas, e enquanto aguardo as cenas dos próximos capítulos, vou relendo o conteúdo dos meus projetos sem nunca encontrar o “crime” de que sou acusado e me foi meio-contado. Talvez os meus leitores e amigos me possam ajudar a esclarecer este mistério. Por favor?

 

Enquanto isso, se o tema te interessa, comenta – pode ser até que me possas indicar o “crime” que alegadamente cometi, porque os factos todos nem eu os sei como arguido – e partilha este texto nas redes sociais.

Obrigado.

Rui Cruz, o arguido.

19 de Março de 2012

(...)

Neste dossier:

Guerra suja contra a Wikileaks e o ciberativismo

É iminente a decisão do Supremo Tribunal do Reino Unido sobre se Julian Assange será ou não deportado para a Suécia, de onde poderá ser levado para os EUA. Ao mesmo tempo, decorre a acusação de Bradley Manning, a alegada fonte dos telegramas da Wikileaks. Ações policiais têm sido dirigidas contra ciberativistas, como os Anonymous. Neste dossier, coordenado por Luis Leiria, passamos em revista esta ofensiva.

Assange: “Os ataques contra nós são reveladores”

Julian Assange fala sobre os ataques dos EUA à WikiLeaks, a liberdade de imprensa, e a decisão iminente do Supremo Tribunal Britânico sobre o seu recurso contra a extradição para a Suécia. Por Richard Phillips, World Socialist Web Site

A guerra suja contra a Wikileaks

As difamações dos média sugerem a cumplicidade da Suécia com um esforço impulsionado por Washington para punir Julian Assange. Por John Pilger.

Nos bastidores do processo contra a Wikileaks

Nesta entrevista, Michael Ratner, advogado da Wikileaks nos EUA, estabelece os nexos entre a acusação a Bradley Manning e a batalha jurídica contra a extradição de Julian Assange. Entrevista a Paul Jay, The Real News Network, publicada em Outras Palavras

Hackers decapitados

O FBI efetuou uma onda de prisões de hackers próximos aos Anonymous. Elas foram possíveis graças a um dos hackers, há alguns meses, ter mudado de lado. Ele foi infiltrado, já a serviço da polícia, no grupo Anonymous para conduzir operações de intrusão, especialmente contra a Stratfor. Por Pierre Alonso e Guillaume Ledit, Owni.

Plano da Polícia para Invadir o Pirate Bay

Pode estar iminente uma invasão ao mais conhecido e antigo site de partilha do mundo. Mas é pouco provável que a repressão consiga tirar o site do ar por mais que algumas horas.

Responsável pelo TugaLeaks constituído arguido

Rui Cruz, responsável pelo site Tugaleaks, foi constituído arguido e afirma não perceber de que está a ser acusado. Por Pedro Pinto, publicado no Pplware

Anonymous e a guerra de informação digital

Um católico que, no dia 5 de novembro de 1605, quase conseguiu fazer voar pelos ares o Parlamento inglês com 30 quilos de pólvora, com o rei James I dentro, é o rosto oficial de uma nova revolta ocidental. Sem se encaixar num rótulo tradicional, Anonymous realiza à sua maneira o desejo não confesso de muitos cidadãos do planeta. Artigo de Eduardo Febbro.