Em 9 de Outubro cumpre-se o quadragésimo aniversário do assassinato de Che Guevara pelo exército boliviano. Após a sua prisão, em 8 de Outubro de 1967, foi executado friamente, por ordens da CIA. Seria ''muito perigoso'' mantê-lo vivo, pois poderia gerar ainda mais revoltas populares em todo o continente.
Por João Pedro Stédile, membro da Coordenação Nacional do MST do Brasil, da Via Campesina e do Movimento Consulta Popular. Artigo originalmente publicado na revista Caros Amigos
Decididamente, a contribuição de Che, pelas suas ideias e exemplo, não se resume a teses de estratégias militares ou de tomada de poder político. Nem devemos vê-lo como um super-homem que defendia todos os injustiçados e tampouco exorcizá-lo, reduzindo-o a um mito.
Analisando a sua obra falada, escrita e vivida, podemos identificar em toda a trajectória um profundo humanismo. O ser humano era o centro de todas as suas preocupações. Isso pode-se ver no jovem Che, retratado de forma brilhante por Walter Salles no filme Diários de Motocicleta, até os seus últimos dias nas montanhas da Bolívia, com o cuidado que tinha com os seus companheiros de guerrilha.
A indignação contra qualquer injustiça social, em qualquer parte do mundo, escreveu ele a uma parente distante, seria o que mais o motivava a lutar. O espírito de sacrifício, não medindo esforços em quaisquer circunstâncias, não se resumiu às acções militares, mas também e sobretudo no exemplo prático. Mesmo como ministro de Estado, dirigente da Revolução Cubana, fazia trabalho solidário na construção de moradias populares, no corte da cana, como um cidadão comum.
Che praticou como ninguém a máxima de ser o primeiro no trabalho e o último no lazer. Defendia com as suas teses e prática o princípio de que os problemas do povo somente se resolveriam se todo o povo se envolvesse, com trabalho e dedicação. Ou seja, uma revolução social caracterizava-se fundamentalmente pelo fato de o povo assumir o seu próprio destino, participar de todas as decisões políticas da sociedade.
Sempre defendeu a integração completa dos dirigentes com a população. Evitando populismos demagógicos. E assim mesclava a força das massas organizadas com o papel dos dirigentes, dos militantes, praticando aquilo que Gramsci já havia discorrido como a função do intelectual orgânico coletivo.
Teve uma vida simples e despojada. Nunca se apegou a bens materiais. Denunciava o fetiche do consumismo, defendia com ardor a necessidade de elevar permanentemente o nível de conhecimento e de cultura de todo o povo. Por isso, Cuba foi o primeiro país a eliminar o analfabetismo e, na América Latina, a alcançar o maior índice de ensino superior. O conhecimento e a cultura eram para ele os principais valores e bens a serem cultivados. Daí também, dentro do processo revolucionário cubano, era quem mais ajudava a organizar a formação de militantes e quadros. Uma formação não apenas baseada em cursinhos de teoria clássica, mas mesclando sempre a teoria com a necessária prática cotidiana.
Acreditar no Che, reverenciar o Che hoje, é, acima de tudo, cultivar esses valores da prática revolucionária que nos deixou como legado.
A burguesia queria matar o Che. Levou o seu corpo, mas imortalizou o seu exemplo. Che vive! Viva o Che!
O legado de Guevara
05 de outubro 2007 - 0:00
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