As manifestações em Lisboa e Porto juntaram centenas de pessoas em protesto contra a prospeção e exploração de gás e petróleo em Portugal e a favor do combate às alterações climáticas, numa altura em que a Casa Branca está em vésperas de ser ocupada por um adversário desse combate.
“Os acordos de Paris já eram um passo muito tímido, embora importante, no combate às alterações climáticas. Esse acordo hoje está em perigo com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e exige uma mobilização global em defesa do planeta e em nome de metas mais ambiciosas para combater as alterações climáticas”, afirmou o deputado bloquista Jorge Costa na manifestação em Lisboa (ver fotogaleria).
“É preciso que as pessoas se mobilizem, é preciso objetivos mais ambiciosos e compromissos de todos os países. Não aceitamos retrocessos, é preciso que a sociedade norte-americana seja envolvida e que haja uma ponte estendida em direção aos EUA para evitar retrocessos num processo que já é tão frágil e tão urgente”, declarou Jorge Costa à RTP.
Ana Rita Antunes, da associação Zero, afirmou ao esquerda.net que “para ficarmos abaixo dos 2ºC e o mais perto possível de 1.5ºC de limite de aumento da temperatura global, é necessária uma aposta permanente nas energias renováveis para salvar o planeta, e parar as novas explorações de petróleo”.
“Temos de alertar toda a gente para o que se passa em Portugal” no que diz respeito às concessões para a exploração de gás e petróleo, disse ao esquerda.net outra ativista envolvida na convocatória desta manifestação. Laurinda Seabra, da Associação de Surf e Actividades Marítimas do Algarve revelou que o movimento no Algarve está a preparar para 2017 “um referendo popular nos 16 concelhos durante 16 semanas”
"Já sabemos o que os outros países puderam contar" com a exploração de petróleo e gás
O protesto no Porto decorreu sob forte chuva, mas os ativistas não desmobilizaram durante a tarde, com a luta contra a prospeção de gás e petróleo no topo da agenda de reivindicações (ver fotogaleria). Paula Sequeiros, do Coletivo Clima, lembrou que “as pessoas desconhecem que os contratos de prospeção prevêem que elas possam chegar até à costa do Porto”.
“É particularmente preocupante porque sabemos que hoje em dia a técnica de extração usada mais frequentemente é precisamente a mais perigosa, porque é aquela que dá lucro mais rápido e mais fácil, o fracking”, prosseguiu a ativista, “Já sabemos o que os outros países puderam contar: contrapartidas irrisórias, destruição do território e de postos de trabalho, preços dos combustíveis a subir e adiamento da transição para as energias renováveis”, acrescentou.
“Uma das empresas que está previsto vir para o porto é uma empresa de Dallas, a Cosmos. Nós sabemos o que eles fizeram nos Estados Unidos. As pessoas ficaram sem terra para onde voltar porque ficou tudo reduzido a escombros”, concluiu Paula Sequeiros, em declarações à RTP.
O manifesto que convocou a iniciativa, que coincide com a realização da Cimeira do Clima COP-22 em Marraquexe, define como uma das prioridades “cancelar todas as 15 concessões de prospecção e exploração de gás e de petróleo ao longo da costa portuguesa”, considerando que essas concessões “são um sinal aberrante de que há futuro na exploração de combustíveis fósseis, contraditório com o espírito do acordo de Paris”.