Está aqui
A música
"Tive um projeto que se chamava 'Piano, Espaço e Momento', que foi gravado no Pavilhão de Portugal no ano passado, e tinha uma dinâmica muito engraçada entre a música que eu fazia de improviso, o espaço e as pessoas que por ali passavam. O meu primeiro 'set' foi de três horas e meia sem parar (risos). Portanto imagine. Cheguei ao fim completamente fora de mim. Foi a única vez na minha vida em que até atingi aquilo de que muitos músicos já me falaram, que é o estado Alfa … é um estado em que já não se sente o próprio corpo. Está-se a fazer, sabe-se o que se está a fazer, mas já não se sente o corpo, perde-se a noção de estar ali. A música, o piano e o músico passam a ser apenas um no momento.
… A música para mim também é um sofrimento. Muitas vezes representa um conflito. Entre aquilo que eu gostava de fazer e aquilo que não consigo fazer no momento... não é a técnica que realmente me preocupa, é o resultado final. É olhar para a música e pensar, muito seriamente, o que é que eu estou ali a fazer. Porque é que eu estou em palco a tocar para as pessoas? (...)
Seria desonesto da minha parte se não dissesse que a música me corre nas veias, que é algo que me vem de dentro e que só assim lhe vou achando um sentido. Não há nada a fazer. Começa por ser um gesto com algo de egoísmo... Não há outra forma de ser verdadeiro. Mas a música será sempre uma questão que me vai deixar muitas dúvidas."
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