Cronologia: a crise económica espanhola

Do estouro da bolha imobiliária às medidas de austeridade e as mudanças das leis laborais, eis algumas das datas mais importantes entre 2007 e 2012.

10 de março 2012 - 22:27
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2007: É o ano do estouro da chamada bolha do imobiliário. Os preços do setor imobiliário vinham a subir a uma média de 10% anuais, chegando em alguns anos a aumentar 30%. O estouro significou uma brusca queda da procura e dos preços, que começou em 2007 e se prolongou até pelo menos a 2011. A queda da procura foi superior a 40%, e o mercado foi incapaz de absorver a enorme oferta de habitação construída e desabitada. Por outro lado, as pessoas deixaram de poder pagar as casas e abandonaram-nas. Em julho de 2011, a habitação tinha perdido um quarto do seu valor em relação aos máximos de 2007.

Março de 2008: O ministro da Economia, Pedro Solbes, reduz as previsões de crescimento do governo de 3,1% para 2,3%, devido aos problemas surgidos no setor imobiliário.

Em 2007, a Espanha tinha um confortável superávit público de quase 2% do PIB, e cresceu 3,5%. Já em 2008, o superávit converteu-se em défice e o crescimento caiu para apenas 0,9%.

15 de setembro: Falência do Lehman Brothers desencadeia o pânico nos mercados financeiros mundiais. Seguem-se os “resgates” maciços, com dinheiro público, do Goldman Sachs, Morgan Stanley e da seguradora AIG.

Terceiro trimestre de 2008: A economia espanhola entra oficialmente em recessão.

2009

Janeiro: A Standard & Poor's rebaixa a notação financeira da Espanha, retirando-lhe a preciosa classificação de AAA.

A Espanha adota um plano de estímulo avaliado em 5% do PIB com medidas como o investimento de 8 mil milhões de euros em obras de infraestrutura, baixas de impostos e um “cheque-bebé” (lá houve mesmo) para cada recém nascido no valor de 2.500 euros.

O Banco de Espanha intervém para resgatar a Caja Castilla-La Mancha, a primeira operação de salvamento de um banco no país.

Maio – Junho: O governo cria um fundo de resgate para os bancos, o FROB, com recursos de 99 mil milhões de euros e apela aos bancos para promoverem fusões e resolverem assim os problemas de insolvência. No prazo de um ano, o número de bancos reduz-se de cerca de 45 para 17.

Outubro: Na Grécia, o socialista Georges Papandreou é eleito primeiro-ministro. Pouco depois, anuncia que o défice deixado pelo governo conservador da Nova Democracia não é de 6%, mas sim de 12,7% do PIB. Posteriores revisões elevam-no a 15,4%.

2010

28 de janeiro: O governo espanhol aprova um Plano de Austeridade para 2011-2013 com uma redução de gastos estimada em 50 mil milhões de euros.

Fevereiro: O Banco de Espanha publica os números da Contabilidade Nacional referentes a 2009 e confirma o retrocesso da economia, com o país a perder 3,6% da sua riqueza no ano anterior.

Primeiro trimestre: A taxa de desemprego da Espanha alcança 20% pela primeira vez em quase 13 anos, com um recorde de 4,6 milhões de pessoas sem trabalho.

A economia espanhola consegue emergir da recessão (18 meses) devido ao aumento das exportações.

Abril: Começa-se a falar dos problemas de financiamento da Espanha, com um défice público de 11,2% em 2009, ao mesmo tempo que entram no auge as negociações para o primeiro empréstimo da Grécia.

Maio: José Luís Zapatero anuncia um agravamento das medidas de austeridade, com cortes dos salários dos funcionários públicos e congelamento das pensões. Novas medidas de austeridade serão decretadas nos seis meses seguintes, incluindo a subida de 2 pontos percentuais do IVA.

O Banco de Espanha intervém na CajaSur, um banco administrado pela Igreja Católica.

Junho: O governo aprova uma nova reforma das leis laborais que ampliam os argumentos para as empresas promoverem despedimentos coletivos; a indemnização do trabalhador despedido passa a ser de apenas 20 dias por cada ano de serviço, com um máximo de 12 meses, e 8 daqueles 20

dias passam a ser financiados pelo Fundo de Garantia Salarial; as indemnizações pagas ao trabalhador com contrato temporário passa a ser de apenas 8 dias de salário por cada ano de serviço.

Julho: O primeiro-ministro espanhol anuncia que o governo vai aumentar a idade de reforma, de 65 para 67 anos.

Setembro: Primeira greve geral nacional contra as alterações da legislação laboral. Cerca de 10 milhões de trabalhadores aderiram à greve, segundo as centrais Comisiones Obreras (CCOO) e UGT, uma adesão superior a 70%.

Dezembro: Aumento do imposto sobre tabaco, redução dos subsídios à energia eólica, e anúncio de privatizações da autoridade aeroportuária e lotaria nacional. Mas ambas foram depois descartadas, com o argumento das más condições do mercado.

UGT e CCOO promovem cerca de quarenta manifestações contra o aumento da idade de reforma.

2011

Junho: Parlamento aprova a reforma das pensões, que aumenta de 65 para 67 anos a idade de aposentação.

Zapatero anuncia eleições gerais para Novembro, em vez de março de 2012, como estava previsto. No mesmo dia, o FMI adverte que a economia espanhola ainda enfrenta “grandes riscos”.

Setembro: O Parlamento aprova uma emenda constitucional que obriga os futuros governos a manterem um equilíbrio orçamental.

Novembro: O PP de Mariano Rajoy tem uma vitória histórica, elegendo 186 deputados, ao mesmo tempo que o PSOE perdia mais de 4,3 milhões de votos. A Esquerda Unida elegeu mais 9 deputados do que em 2008 e a coligação Amaiur ganhou no País Basco.

Terceiro trimestre: O crescimento económico cai para zero. O índice de desemprego atinge 21,5%, o mais alto em 15 anos.

2012

Fevereiro: O governo aprova uma modificação das leis laborais, agravando as medidas já promovidas por Zapatero. As medidas de “liberalização do mercado de trabalho” terão sido definidas durante contactos estreitos entre Rajoy e a senhora Merkel. Assim, passa a bastar para que as empresas possam fazer despedimentos que “se infira uma situação económica negativa em casos como a existência de perdas atuais ou previstas”. Os despedimentos nessas condições podem ser feitos sem autorização governamental, sem arbitragem nem recursos, e mediante um pagamento de 20 dias de trabalho com um máximo de anuidade.

9 de março: centrais sindicais convocam uma greve geral para dia 29.

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