Bancos: nova supervisão, novo supervisor

09 de julho 2009 - 23:00
PARTILHAR

Com tanta cegueira, a supervisão bancária vai continuar cega. Ou seja, o regabofe na banca vai continuar. E se surgirem novos BPNs, BCPs ou BPPs, o estado corre em socorro de bancos e banqueiros falidos, sempre à custa do dinheiro dos portugueses. Só no BPN, já lá vão 2,5 mil milhões de euros. Por enquanto...

Em 2004, o PGR/DCIAP pergunta a Vítor Constâncio sobre o Banco Insular. Vítor Constâncio responde que não conhece.

Em 2005, é lançada a Operação Furacão. Abre telejornais e enche primeiras páginas durante vários dias. Vítor Constâncio não deu por nada.

O Banco Insular tem contas abertas no Montepio geral desde 1998. Vítor Constâncio não sabia, nem procurou saber.

Sucessivas inspecções do BdP ao BPN (2001, 2003, 2005, 2007) identificam processos e situações irregulares, indiciando práticas ilegais e, nalguns casos, sugerindo operações fraudulentas. Sistemática e reiteradamente, o BPN persiste e o BdP consente na desobediência. Justificação: eram pessoas idóneas, quem iria imaginar que Oliveira e Costa seria capaz de uma coisa daquelas.

Ingenuidade? Negligência? Proteccionismo? Com tanta informação disponível, como pode Vítor Constâncio vir agora falar em ingenuidade? Sabe-se hoje o que o BdP sabia sobre os esquemas no BPN. E sabia-o há demasiado tempo mas, apesar disso, não agiu a tempo e horas. A negligência do BdP facilitou e protegeu o gangsterismo financeiro que tomou conta do grupo SLN/BPN.

Vítor Constâncio acha que o BdP fez tudo que tinha a fazer porque as fraudes são inevitáveis. Diz-se, mesmo, de consciência tranquila. A leveza da sua consciência pesa muito nas contas públicas e no bolso dos portugueses: dois mil e quinhentos milhões de euros, até ao momento.

Teixeira dos Santos diz não haver nem outra nem melhor alternativa à nacionalização do banco. Esqueceu-se apenas de explicar para quem é que ela foi a melhor: para os accionistas, pois claro, assim "limpos" de qualquer responsabilidade tanto no colapso do banco como no pagamento do colossal buraco financeiro a que a sua ganância e aventureirismo conduziram.

Desta comprida e acidentada história de enganos, retiram-se algumas conclusões. Desde logo que a melhor maneira de assaltar um banco é administrá-lo. E que, isso é bem mais fácil quando o "polícia" é o Banco de Portugal. Por último, que a inadiável e reclamada mudança na supervisão bancária em Portugal exige a mudança do supervisor. Sem isso, nada feito.

João Semedo

Termos relacionados: BPN: A fraude do século