Acordo à esquerda: o que disseram os partidos

O diálogo à esquerda teve vários momentos. Da noite eleitoral, passando pelas reuniões bilaterais, até ao anúncio do acordo, conheça as principais declarações dos dirigentes de PS, Bloco, PCP e PEV disseram.

10 de novembro 2015 - 14:33
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Foto de Paulete Matos

Noite eleitoral: Não será pela esquerda que direita governará

Conhecidos os resultados das eleições legislativas, o secretário-geral do PS, no seu discurso na noite eleitoral, deixava claro que não se iria demitir e que o “ónus” da criação de “condições de governabilidade” estavam do lado da coligação Portugal à Frente.

António Costa avisaria logo que “ninguém pode contar com o PS para viabilizar as políticas contrárias às do PS”, e que PSD e CDS perderam a maioria parlamentar e que isso constituía “um novo quadro político”. O dirigente socialista sublinhava ainda que não votaria nenhuma moção de rejeição ao programa de governo de Passos e Portas, se não tivesse uma alternativa estável.

Catarina Martins, num comentário ao resultado da coligação de direita, afirmara que ela “perdeu votos e perdeu mandatos”.

“Se não tiver maioria, não será pelo Bloco de Esquerda que conseguirá formar governo. Uma coligação de direita minoritária não será governo em Portugal se a democracia não lhe der uma maioria”, prometeu a porta-voz do Bloco, garantindo que “o Bloco vai cumprir a sua palavra”.

“Do que Portugal precisa é de um plano de urgência que junte forças, de curar as feridas da pobreza, de investimento para emprego, aumentar o salário mínimo e afastar as ameaças às pensões. Precisa da tranquilidade e da certeza de que faremos o nosso melhor contra a chantagem financeira. A dívida deve ser reestruturada para que haja saúde pública, escola de qualidade e estabilidade nas pensões”, asseverava a porta-voz bloquista.

O secretário-geral do PCP e cabeça-de-lista da CDU, Jerónimo de Sousa, defendeu que os resultados da coligação PSD/CDS se tinham traduzido numa “enorme perda de votos, de pontos percentuais e de deputados" e que “a ilação mais importante” a retirar dos resultados eleitorais é a “confirmada derrota dos projetos de PSD e CDS”. O dirigente comunista classificou como “intolerável” a hipótese de poder vir a ser formado um executivo de direita.

“O PCP e o PEV rejeitarão no Parlamento e as pretensões – da coligação de direita - serão derrotadas. A menos que o PS as viabilize. Neste quadro o PS tem condições para formar governo". Jerónimo adiantaria que o seu partido estaria disponível para viabilizar um Orçamento de Estado do PS.

Reuniões à esquerda confirmam vontade de rompimento com ciclo de empobrecimento da direita

A 7 de outubro, poucos dias após as eleições, uma delegação do PS liderada por António Costa reunia-se com o PCP na sede deste partido na Soeiro Pereira Gomes. À saída do encontro, Jerónimo de Sousa reafirmava que “o PS só não será governo, se não quiser” e anunciava que o partido que lidera rejeitará “qualquer moção de rejeição vinda do PSD ou do CDS”.

“O PS terá de escolher entre associar-se à viabilização e apoio a um governo PSD-CDS ou tomar a iniciativa de formar um governo que tem garantidas condições para a sua formação e entrada em funções”, defendeu o secretário-geral comunista.

“Nós sempre considerámos que o PCP estava preparado para assumir todas as responsabilidades, incluindo governativas, para realizar uma política diferente da que foi realizada nestes últimos anos pela maioria. Essa disponibilidade mantém-se”, garantia Jerónimo de Sousa.

“O que estamos discutir não é o programa dos partidos, porque cada um tem o seu programa. O que estamos a discutir são as medidas de políticas consideradas prioritárias para o país, tendo em vista haver uma inversão da política seguida, dando satisfação e expressão institucional àquilo que foi a vontade dos portugueses no domingo”, defendeu, por seu turno, o líder socialista.

“Era preciso apurar o que, além da divergência, havia de convergência. Não estivemos a trabalhar sobre o que nos divide, mas a trabalhar em torno de perspetivas comuns e atuações prioritárias que correspondam à vontade dos cidadãos para que haja uma alteração de políticas em Portugal”, argumentou António Costa.

A 12 de outubro, chegou a altura de Costa se deslocar à Rua da Palma, em Lisboa, para ser recebido pelos bloquistas. À saída da reunião, o líder socialista declarava que PS e Bloco tinham tido uma “reunião muito interessante” em que foi possível “identificar matérias passíveis de convergência”.

Catarina Martins deixava claro que “o governo de Pedro Passos e Paulo Portas acabou” por existir “outra solução de Governo” que defende o “emprego, salários e pensões”.

Nessa mesma semana, PS reuniu ainda com o PEV. O encontro foi classificado de “muito produtivo” por António Costa e de “útil” pela deputada ecologista Heloísa Apolónia.

Esquerda chega a acordo

A 6 de novembro, a Comissão Política do Bloco anunciava que as negociações com o PS estavam concluídas. “Pela parte do Bloco, as negociações com o PS estão concluídas e estão reunidas as condições para um acordo à esquerda pela proteção do emprego, dos salários e das pensões”, lia-se numa breve nota publicada no esquerda.net.

“Reafirmamos agora, e em definitivo, o que temos sublinhado: há na Assembleia da República uma maioria de deputados que é condição bastante para o PS formar governo, apresentar o seu programa, entrar em funções e adotar uma política que assegure uma solução duradoura na perspetiva da legislatura”, garantia Jerónimo de Sousa numa conferência de imprensa posterior à reunião de 8 de novembro do Comité Central do PCP que, nas palavras do seu secretário-geral, aprovara “por unanimidade e de forma informal” o apoio à formação de um executivo socialista.

“Perante as posições acordadas e publicamente assumidas por Bloco de Esquerda, PCP e "Os Verdes", está garantida: a formação e viabilização parlamentar de um Governo do PS com o programa aprovado na Comissão Nacional; a existência de condições de estabilidade na perspetiva de legislatura com a garantia de não aprovação de eventuais moções de rejeição ou censura da iniciativa do PSD/CDS; a existência de condições de governabilidade com apreciação conjunta dos instrumentos fundamentais de governação, designadamente os orçamentos do Estado”, avançava o comunicado da Comissão Nacional do Partido Socialista, divulgado à imprensa na noite de 8 de novembro.

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