Miguel Guedes

Miguel Guedes

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.

A propósito da crise humanitária dos refugiados temos ouvido e lido o discurso do medo no seu esplendor.

A imposição pelo Ministério da Economia de um ajuste directo para a subconcessão a privados da STCP e da Metro do Porto, à revelia de todas as vontades e no prazo forjado de uma semana útil, poderá fazer a síntese da acção típica do poder central.

Ao triunfo de Trump e de tantos demagogos que aparecem (olá Europa...), cola-se uma frase do romance de George Orwell, "O triunfo dos porcos": "o homem não serve os interesses de nenhuma criatura excepto ele próprio".

Nem os números batem certo, nem o PS conseguiu respeitar sequer algumas pessoas da Junta de Freguesia de Arroios. Podia ter sido tudo perfeito. Mas falhou o essencial da mensagem: os números e o respeito.

A recusa europeia de uma solução decente e não humilhante para a Grécia esteve sempre ligada à ânsia hegemónico-dominadora da Alemanha e ao medinho ibérico de que forças políticas nacionais de esquerda pudessem, perante uma vitória negocial do Syriza, ganhar terreno nas eleições legislativas, daqui a uns meses.

Há dias, o "Washington Post" explicava em forma de título: "Porque dificilmente alguém morre de overdose em Portugal". Confere-se o ranking do Centro Europeu de Monitorização das Drogas e da Toxicodependência e somos vice-reis na tabela.

A precariedade e os "sem voz" iluminaram Espanha de esperança pela força de poderem e quererem falar.

O elogio público do primeiro-ministro a um dos principais responsáveis do BPN é um monumental "visto gold" à impunidade daqueles que se passeiam por cima da lei.

As afirmações de Fernando Leal da Cunha, secretário de Estado adjunto da Saúde, quando confrontado com o estado dificilmente narrável das urgências hospitalares são o espelho de quem não as usa.

Quando o grupo islâmico Al-Shabab ataca a Universidade de Garissa no Quénia matando 148 pessoas (maioritariamente estudantes cristãos), ninguém vestiu uma camisola ou t-shirt. Há casos em que a morte, singular ou colectiva, um, dezenas ou centenas, não passa mesmo de um número.