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Uma economia que vive das baixas qualificações - 2ª parte

O governo regional e a coligação PSD/CDS/PPM, não só fomentam esta economia de exploração do trabalho e do território, como veem a escola numa lógica meramente instrumental, um meio de fornecimento da mão de obra para hoje.

Retomo o assunto do artigo Uma economia que vive das baixas qualificações

Segundo dados do INE de 2021, apenas 10% dos alunos dos Açores entre os 18 e os 22 anos seguiu para o ensino superior. No continente o valor atinge os 41,7% e na Madeira os 13,4%.

Esta diferença abismal entre o que sucede nas regiões autónomas, e em especial nos Açores, e o que acontece no continente terá sem dúvida muitas explicações a que os sociólogos poderão dedicar muitas horas de estudo. Ninguém poderá, no entanto, negar que estes dados significam a manutenção de um atraso estrutural da região.

As consequências são diversas na economia e nos serviços públicos. Nestes últimos, é evidente que será muito mais fácil atrair e fixar jovens em áreas altamente carenciadas como a medicina ou a enfermagem se tivermos mais jovens açorianos no ensino superior, dada a natural maior facilidade em se fixarem nas suas ilhas e regressarem após conclusão de estudos ou experiências no exterior. Sem base de recrutamento essa atração e fixação de profissionais é muito mais difícil e os serviços públicos e a população sofrem.

Na economia, não é preciso lembrar que trabalhadores e empresários mais qualificados são sinónimo de maior inovação e de melhores salários. O problema é que a economia que temos e que o atual governo pretende manter é uma economia que dispensa trabalhadores qualificados.

E, ao contrário do que pensa muita gente, os jovens começam a analisar a sociedade onde se inserem desde muito cedo. Dizem tantas vezes que não há incentivo para estudar e prosseguir estudos porque, quer estudem, quer não, espera-os o trabalho nas vacas, na pesca, nas obras e cada vez mais no hotel ou no restaurante. Setores onde em regra onde se paga mal como já demonstrei no artigo Uma economia que vive das baixas qualificações. Esse é um círculo vicioso que é preciso quebrar.

Então o que está a fazer o governo regional para quebrar esse círculo? O mesmo governo que tanto diz que pretende apostar nas qualificações?

Tem recursos do PRR para apostar no aumento das qualificações, mas a sua aplicação está a correr manifestamente mal. Nem sequer divulga a existência de bolsas de estudo para o ensino superior financiadas pelo PRR.

Pelo contrário, promove o ensino profissional como “a primeira escolha” (palavras de uma campanha do governo) quando se sabe que, para quem pretende prosseguir estudos no ensino superior, esta via tem mais obstáculos. Esta intervenção do governo na escolha dos alunos quanto ao seu futuro não é neutra e pretende apenas garantir rapidamente a mão de obra para as profissões que a economia da região necessita hoje, descurando o futuro.

Estes factos demonstram que o governo regional e a coligação PSD/CDS/PPM, não só fomentam esta economia de exploração do trabalho e do território, como veem a escola numa lógica meramente instrumental, um meio de fornecimento da mão de obra para hoje. É a demonstração clara de que a estratégia de desenvolvimento do governo e da direita é manter os Açores como uma região pobre.

Assim, sem uma mudança radical de política, passaremos as próximas décadas a lamentar os números, as estatísticas que caracterizam os Açores como uma região a anos luz das regiões mais desenvolvidas do país, para não falar na Europa.

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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