Biden a todo o gás

porLuís Fazenda

10 de fevereiro 2022 - 23:30
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As declarações finais do encontro entre Joe Biden e Olaf Scholz na Casa Branca valem mais do que muitos comunicados de cimeiras para entreter a diplomacia funcionária e funcional.

O presidente dos Estados Unidos da América (EUA) garantiu ao mundo que se a Federação Russa invadir a Ucrânia o gasoduto Nord Stream 2, que une a Rússia à Alemanha, sob o Mar Báltico, será encerrado. Não, não foi o chanceler da Alemanha que o proclamou, ele foi um mero assistente do ultimato do imperador Biden. Mais: isso não foi sequer ainda dito oficialmente em Berlim. A Alemanha foi dobrada à estratégia dos EUA e da NATO, e o social-democrata Scholz, colega de António Costa no Partido Socialista Europeu, aceitou sem pestanejar.

Se isso vier a acontecer o prejuízo da Alemanha, o grande investidor desse gasoduto, é brutal. O valor do empreendimento é próximo do montante da "bazuca" para Portugal. Claro que o prejuízo para o futuro da Alemanha e da Rússia é ainda mais ruinoso. A dependência da Alemanha desse gás natural é ainda maior com o fecho das centrais a carvão e o fecho das centrais nucleares. A Rússia precisa dessas receitas para aguentar as altas despesas militares.

Foi a resposta de Biden à iniciativa de Emmanuel Macron de conferenciar com Vladimir Putin e depois com Volodymyr Zelensky. O presidente francês afirma ter conseguido compromissos de não beligerância de ambas as partes. Zelensky, chefe de Estado da Ucrânia, tinha até observado anteriormente que não queria tanta ajuda da NATO e dos EUA, temendo que isso provocasse uma reação da Rússia. O suposto agredido diz que não acha que vá haver agressão. Que a Rússia tem uma história expansionista é bem conhecido, no caso a excitação é uma montagem política de Biden.

A União Europeia ficou quebrada entre a Alemanha e a França. Seja como for, Biden está a empurrar a UE para cercar a Rússia com armas apontadas a alvos russos. Neste contexto, é importante exigir à Rússia e à Ucrânia o cumprimento dos Acordos de Minsk, cessando hostilidades na zona de Donetsk, e garantindo a autonomia dessa área russificada, no respeito pelas fronteiras ucranianas.

A desmilitarização e o desarmamento são uma necessidade imperativa na Europa. Isso é incompatível com a expansão da NATO para as fronteiras da Rússia em vários países, bem como a instalação de bases militares controladas pelos EUA.

Lamentavelmente, quer o governo português, quer o governo espanhol, seguem na esteira de Scholz, mostrando como os social-democratas participam no clima de guerra. Santos Silva tem tropas à disposição e a Espanha já tem soldados no Mar Negro.

Sobre o/a autor(a)

Luís Fazenda

Dirigente do Bloco de Esquerda, professor.
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