Está aqui

Vozes da direita juntam-se às críticas a Bruxelas

Em Portugal, não foram apenas os partidos à esquerda do PS a insurgirem-se contra a chantagem de Bruxelas e Berlim ao povo grego. Ex-governantes e comentadores políticos nos antípodas destes partidos também criticaram a “humilhação” que os líderes políticos europeus procuraram infligir ao governo da esquerda grega.
Comentadores da direita portuguesa insurgem-se contra os diktats europeus.

Ainda antes de ser anunciado o resultado da cimeira europeia, já Freitas do Amaral se insurgia contra a União Europeia. “A inflexibilidade negocial de Bruxelas, e os sucessivos “diktats” de Berlim, mostram que a U.E. passou a ser “uma ditadura sobre democracias”! Há que combater isso, enquanto é tempo”, declarou o fundador do CDS e ex-governante na mensagem enviada à sessão de solidariedade com a Grécia no início de julho.

“O Syriza ganhou as eleições e foi um grave erro da Europa, e de Portugal, não ter respeitado, minimamente, a vontade do povo grego”, afirmou Freitas do Amaral, alertando que “o projecto europeu está a desmoronar-se sob os nossos olhos”, dando os exemplos da Grécia, Ucrânia, refugiados do Norte de África… e deixando o apelo: “Estadistas, precisam-se!”

Outra voz crítica do acordo tem sido Manuela Ferreira Leite. “Pelos resultados conhecidos, percebe-se que não existiu uma verdadeira negociação, porque esta implica cedências mútuas por parte dos negociadores, ou seja, ganhos e perdas para cada um dos intervenientes, mas apenas uma lista de imposições que, à semelhança de uma punição, foi para ‘pegar ou largar’, explicou a ex-ministra das Finanças do PSD na sua coluna semanal do Expresso.

Para Manuela Ferreira Leite, as exigências dos credores são “inexequíveis” e para eles “o que verdadeiramente interessa é mostrar quem manda e que as políticas económicas dos países do euro, quaisquer que sejam as realidades a que se destinam, são as desenhadas de acordo com manuais que até já os Prémios Nobel rejeitam”.

Para Manuela Ferreira Leite, as exigências dos credores são “inexequíveis” e para eles “o que verdadeiramente interessa é mostrar quem manda e que as políticas económicas dos países do euro, quaisquer que sejam as realidades a que se destinam, são as desenhadas de acordo com manuais que até já os Prémios Nobel rejeitam”.

Também Miguel Sousa Tavares, no mesmo semanário, defende que “mesmo ao preço de acabar de arruinar de vez o país, o acordo não é exequível” e aponta responsabilidades à Alemanha: “julgo que só lhe interessa a Europa na medida em que for ela a ditar as regras e a colher o grosso dos lucros”.

“Não dá para esquecer o que se passou domingo, em Bruxelas. O ódio na cara de Schäuble, o desprezo, que ele nem tentou disfarçar, pelos ‘pigs’ gregos”, prossegue o cronista, para quem “não era preciso humilhar e punir a Grécia por se ter endividado e ter eleito um Governo que ousou pôr em causa a política do Eurogrupo e dos sagrados interesses dos credores”. Conclusão: “Doravante, todos sabemos qual é o atual rosto da Europa. E não se recomenda”, diz Miguel Sousa Tavares, sublinhando que sempre foi “grande defensor da Europa, do euro e de Maastricht”, mas que agora “chegou a altura de abrirmos um debate sério, sem preconceitos nem simplismos, sobre a nossa permanência no euro”.

Para o ex-ministro das Finanças do CDS, Bagão Félix, a Europa quis “quebrar o tabu de que não se podia falar da expulsão temporária do euro”. E na sequência dos últimos acontecimentos, ficou provado que “na União Europeia já ninguém acredita neste projeto do euro. Está tudo farto!”

“Toda a gente sabe que eu sou tudo menos adepto da política do Syriza, mas o que a Europa disse é que não pode haver nenhum governo, mesmo que democraticamente eleito, que saia do “centrão”. Este acordo é para derrubar o governo grego”, concluiu Bagão Félix.

“Nenhum dos dois programas anteriores funcionou, a Grécia está de rastos, e qual é o remédio? É um terceiro programa que ainda vai agravar mais a situação”, criticou Bagão Félix na SIC-Notícias, sublinhando que “é um acordo em desacordo”, já que ninguém, a começar por Alexis Tsipras, acredita nele.  “Toda a gente sabe que eu sou tudo menos adepto da política do Syriza, mas o que a Europa disse é que não pode haver nenhum governo, mesmo que democraticamente eleito, que saia do “centrão”. Este acordo é para derrubar o governo grego”, concluiu Bagão Félix.

Também José Pacheco Pereira se tem destacado nas críticas à forma como a Europa evoluiu desde a vitória da esquerda na Grécia. “A questão nunca foi conduzir bem ou mal as negociações, mas o facto de, por imposição da Alemanha, se ter sempre decidido que não havia acordo com os esquerdistas do Syriza”, resume na sua crónica no Público.

“Os alemães e os seus acólitos tinham um programa de humilhação, com um acordo que foi afinal escrito pelo Syriza a branco, para eles o reescreverem a preto. O acordo com a Grécia, na realidade um diktat, só tem uma lógica: obrigar os gregos a engolir tudo o disseram que não desejavam. Não tem lógica económica, nem financeira, tem apenas uma lógica política de humilhação. Querias isto? Pois levas com um não-isto. Foi assim que foi feito o chamado acordo”, prossegue Pacheco Pereira, para quem o que a UE fez aos gregos foi “uma mistura de vingança e humilhação, [que] mostra bem o que a “Europa” hoje é”.

(...)

Neste dossier:

A Europa da chantagem e o ultimato à Grécia

O acordo imposto em Bruxelas a Alexis Tsipras veio mostrar aos europeus que a democracia vale zero para quem toma decisões nos corredores do Eurogrupo. O povo grego vai continuar a pagar a permanência no euro com a receita recessiva prescrita pela Alemanha.

Dossier organizado por Luís Branco.

Democracia contra o colonialismo financeiro

Leia aqui a resolução aprovada na reunião da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda a 26 de julho sobre as consequências da cimeira da zona euro e a solidariedade com a luta contra a ocupação financeira da Grécia.

Vozes da direita juntam-se às críticas a Bruxelas

Em Portugal, não foram apenas os partidos à esquerda do PS a insurgirem-se contra a chantagem de Bruxelas e Berlim ao povo grego. Ex-governantes e comentadores políticos nos antípodas destes partidos também criticaram a “humilhação” que os líderes políticos europeus procuraram infligir ao governo da esquerda grega.

Leia aqui o "acordo" de Bruxelas (anotado por Varoufakis)

O ex-ministro das Finanças grego decidiu dar a conhecer as suas notas pessoais sobre o texto que serviu de acordo em Bruxelas e no qual, poucos dias depois, já quase ninguém diz acreditar.

Discurso de Zoe Konstantopoulou a favor do NÃO ao acordo imposto pelos credores

A presidente do Parlamento grego e uma das figuras mais populares do Syriza votou contra os dois pacotes de medidas prévias à negociação do terceiro memorando. No discurso de 15 de julho, Zoe Konstantopoulou diz não ter dúvidas de que "Alexis Tsipras foi chantageado com a sobrevivência do seu povo".

O “acordo” visto do interior do Syriza

Quando Alexis Tsipras regressou de Bruxelas com um acordo em que diz não acreditar e ter resultado da chantagem europeia, encontrou o partido dividido entre a estupefação e a revolta.

Habermas: “Governo alemão assumiu-se como chefe disciplinador da Europa”

Nesta entrevista ao Guardian, o filósofo alemão Jürgen Habermas fala sobre o acordo imposto à Grécia, considerando-o “um ato de punição de um governo de esquerda”. E defende que as medidas exigidas são uma “mistura tóxica de reformas” que irão “matar qualquer ímpeto de crescimento” na Grécia.

Stiglitz: Acordo sobre Grécia é "punitivo e uma estupidez cega”

Segundo o ex economista chefe do Banco Mundial e prémio Nobel da Economia, a Alemanha “não tem nenhum bom senso económico e nenhuma solidariedade”. Joseph Stiglitz  defendeu uma transformação radical da arquitectura financeira mundial. 

Vicenç Navarro: “Europa como ponto de referência mundial desapareceu”

“A Europa ponto de referência mundial para aqueles que desejam viver em países democráticos e justos desapareceu”, defende o sociólogo e politólogo espanhol. No seu artigo, Navarro denuncia a enorme manipulação dos media espanhóis e alemães no que respeita à chantagem e ao ultimato a que foi sujeita a Grécia.

Mélenchon: “Um acordo forçado que não devemos apoiar”

“O Governo de Alexis Tsipras resistiu de pé como nenhum outro na Europa. Devemos-lhe solidariedade”, contudo, “nada nos pode obrigar a participar na violência que lhe estão a infligir”, destacou Jean Luc Mélenchon poucos dias após a cimeira de Bruxelas.

O “plano Grexit” da Alemanha

O plano de Wolfgang Schäuble de expulsão da Grécia do euro, dado a conhecer na reunião do Eurogrupo de 11 de julho, impõe que o país entregue bens no valor de 50 mil milhões a um fundo para abater a dívida, sob a ameaça de mandar a Grécia para um “intervalo da zona euro” pelo menos até 2021. Aparentemente tem a cobertura de Angela Merkel e do vice-chanceler Sigmar Gabriel, líder do SPD.

Tsipras: “Ameaça de Grexit só acaba com a assinatura do programa”

No dia seguinte à assinatura do acordo, o primeiro-ministro grego recusou o cenário de eleições antecipadas, afirmando que assinou um acordo em que não acredita para evitar o desastre inscrito no plano dos “conservadores extremistas europeus”. Até à assinatura final do programa nenhum cenário está fechado, avisa.

Varoufakis abre o livro: “Você até tem razão, mas vamos esmagar-vos à mesma”

Na primeira entrevista após deixar o Ministério das Finanças, Varoufakis revela que defendeu a emissão de moeda alternativa como resposta à asfixia dos bancos, fala da “completa falta de escrúpulos democráticos por parte dos supostos defensores da democracia na Europa” e acusa os governos de Portugal e Espanha se serem “os mais enérgicos inimigos do nosso governo”.