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A Palavra aos Alunos: Que poder de decisão?
A escola, em vez de ser um espaço social e cultural ao serviço dos jovens e das comunidades, em que cada jovem deveria ter acesso a uma biblioteca, salas de estudo, computadores e internet, mediatecas, espaços para praticar desporto, lugares para conviver, onde se ouve música e se conversa, resume-se actualmente um espaço reprodutor das desigualdades sociais, em que se reproduz o racismo, o fosso entre ricos e pobres, a elitização dos vários poderes, tanto nas Associações de Estudantes tornadas comissões de festas, como nos orgãos escolares cada vez menos importantes com a anunciada chegada do glorioso gestor privado que irá acabar com os problemas da escola.
Intervenção de Rodrigo Rivera no Fórum da Educação
É, no geral, um espaço de infelicidade, onde a possibilidade de aprendizagens importantes com os professores na aula, e com os amigos nos tempos livres vai desaparecendo, reduzindo-se agora e cada vez mais a um armazém de pessoas, fábrica dos próximos precários, de preferência bem flexíveis e inseguros.
E não basta passarmos a maior parte do dia fechados entre quatro paredes a ouvir o que o programa do Ministério nos quer ensinar.
As aulas de substituição vieram reforçar esta ideia de prisão que o Ministério tem da escola. Entretem-se os alunos com qualquer coisa, com um professor de qualquer disciplina, com o único objectivo de mantê-los fechadinhos numa sala, bem vigiados, para não fazer o que realmente lhes apetece. O Ministério tem uma visão dos alunos de "putos irresponsáveis que não sabem o que é melhor para eles". Como os alunos não sabem, e o Ministério também não, o melhor mesmo é fecharem-nos em salas.
A escola pública das jaulas de substituição torna-se assim num espaço absurdo para os jovens, onde é difícil perceber o sentido do que nos obrigam a fazer, onde somos apenas, como diriam os Pink Floyd, apenas mais um tijolo na parede.
Mas a história das explosões estudantis provam que somos muito mais do que isso. Os estudantes, mesmo olhando para a história recente das contestações às propinas e à privatização do ensino, de defesa de uma disciplina de educação sexual sem tabus, têm sido uma poderosa força política de crítica, que questiona a norma e que mesmo nos momentos em que assumem uma natureza mais corporativa, questionaram sempre as relações de poder instituídas dentro e fora da escola.
Mas o que mais dá comichão ao capitalismo, é que não nos ficamos pelas questões da escola. As nossas aprendizagens não se resumem às da sala de aula e o nosso activismo também não. Basta lembrarmo-nos das enormes participações de estudantes nas manifestações contra a invasão do Iraque, à contestação de regimes políticos, como na Indonésia, ou mais recentemente no Irão, ou mesmo nas questões de emancipação juvenil mais específicas, como o limite etário no consumo de álcool por parte dos jovens nos EUA.
Porque o espaço escolar é sem dúvida um dos lugares privilegados para o activismo, os jovens têm sido sempre uma força revolucionária de transformação da sociedade.
E porque o Governo, ao serviço do neoliberalismo mais selvagem, não tem interesse nenhum em ser contestado, questionado ou criticado, quer sufocar a democracia na vida da sociedade, começando por impor-lhe barreiras de participação na própria gestão da escola e das políticas que directamente os afectam. O gestor é o senhor todo-poderoso da escola, investindo e desinvestindo, comprando e vendendo, calando e expulsando quem se lhe opõe, e o professor o seu discípulo involuntário na sala de aula, mantendo os alunos bem vigiadinhos e de boca fechada, engolindo um programa sempre demasiado extenso e desadequado. Quando não estão na sala de aula, não há problema, a Ministra quer videovigilância em nome da segurança de todos. De todos, ou da parede com os seus milhões de tijolos.
O capitalismo quer tornar a escola num espaço onde se ouve, cala e come. Onde se aceita uma norma e um sistema, onde a pouca voz que temos agora, quer-se completamente silenciada com a privatização que já começo.
Por isso, nós queremos, e já, o poder de decisão a que obviamente temos direito, como força crítica construtiva de uma escola para todos e todas. Queremos ser ouvidos enquanto membros das Associações de Estudantes, dos Conselhos pedagógicos, das assembleias de escola, nos conselhos directivos.
Se a escola é feita para nós, é absurdo não participarmos em todas as decisões que nos dizem respeito. Queremos ser o tijolo de uma nova parede, em que todos têm direito de falar e de ser ouvidos. Em que todos decidam.
Rodrigo Rivera é estudante do ensino secundário e aderente do Bloco de Esquerda
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