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Facebook ocultou páginas onde promovia a sua capacidade de influenciar eleições

Até recentemente, "havia uma secção inteira do site dedicada a divulgar as “histórias de sucesso” de campanhas políticas que usaram a rede social para influenciar resultados eleitorais" no Facebook. Um artigo de Sam Biddle publicado no The Intercept.
Mark Zuckerberg, presidente e fundador do Facebook, fala durante o lançamento de produto Oculus Connect 4 em San Jose, California, numa quarta-feira, 11 de outubro de 2017.
Mark Zuckerberg, presidente e fundador do Facebook, fala durante o lançamento de produto Oculus Connect 4 em San Jose, California, numa quarta-feira, 11 de outubro de 2017.

Quando perguntaram a Mark Zuckerberg se o Facebook tinha influenciado o resultado das eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, ele repudiou a possibilidade de que o site pudesse ter esse poder, dizendo que era uma “loucura”. A afirmação não era verídica: havia uma secção inteira do site dedicada a divulgar as “histórias de sucesso” de campanhas políticas que usaram a rede social para influenciar resultados eleitorais. Essa página, entretanto, desapareceu, apesar do início das eleições primárias de 2018 para o Congresso dos Estados Unidos.

Capturas de tela do Facebook de junho de 2017, à esquerda, e de março de 2018, à direita, mostram que a rede social removeu sua seção “Governo e Política”.

Capturas de tela do Facebook de junho de 2017, à esquerda, e de março de 2018, à direita, mostram que a rede social removeu sua seção “Governo e Política”.
Capturas de tela do Facebook de junho de 2017, à esquerda, e de março de 2018, à direita, mostram que a rede social removeu sua seção “Governo e Política”.

Depois do reconhecimento público da incomparável capacidade do Facebook de distribuir informações e da ansiedade global sobre interferências eleitorais indevidas, não ficava bem alardear a habilidade da empresa em fazer campanhas de influência altamente eficazes.

A página de “histórias de sucesso” do Facebook é um tributo ao domínio da empresa sobre a publicidade online e contém exemplos de quase todos os segmentos que mostram como o uso da rede social pode dar uma vantagem competitiva a certos agentes. “Estudos de casos como esses inspiram-nos e motivam-nos”, comemora a página. Exemplos atuais incluem a marca de cosméticos CoverGirl (“promover a renovação de uma marca de beleza com anúncios em vídeo no Facebook e no Instagram”) e a empresa norte-americana de sumos Tropicana (“os anúncios em vídeo do Facebook aumentam a percepção da marca de sumo de frutas”). Nada de muito controverso.

Os estudos de caso de campanhas políticas que o Facebook costumava nomear, no entanto, incluíam algumas afirmações mais interessantes. O trabalho da rede social para o governador da Flórida, o republicano Rick Scott, “usou anúncios de sites e de vídeos para aumentar a presença dos eleitores hispânicos na disputa, bem-sucedida, do seu candidato pela reeleição, o que resultou num aumento de 22% no apoio dos hispânicos e na obtenção da maioria dos votos dos eleitores cubanos”. Já a atuação do Facebook para o Partido Nacional Escocês (SNP), um partido político do Reino Unido, foi descrita como tendo “desencadeado uma avalanche”.

O menu de seleção das “histórias de sucesso”, que costumava incluir uma seção inteira de “Governo e Política” agora desapareceu. Ainda é possível aceder às páginas dos estudos de caso individuais, como o da campanha de Scott e o do SNP, através dos seus URLs, mas já não constam de nenhuma lista.

Um representante do Facebook, em resposta a uma pergunta sobre a exclusão dessas histórias das listas de links, declarou que “alguns estudos foram arquivados, mas ainda estão disponíveis pelos links diretos”. O representante, porém, não respondeu à pergunta sobre as razões da remoção completa da seção “Governo e Política”.

Tradução: Deborah Leão. Revisto e adaptado por Joana Campos para o esquerda.net

https://theintercept.com/2018/03/19/facebook-influenciar-eleicao-propaganda/

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Neste dossier:

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