Geopolítica do Petróleo

O debate sobre o tema Geopolítica do Petróleo foi apresentado pelo deputado do Bloco de Esquerda Pedro Filipe Soares, de quem publicamos aqui um texto com o mesmo título.

05 de setembro 2010 - 1:47
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Geopolítica do Petróleo

“O petróleo é 10% de economia e 90% de política”. Com frase anterior, Daniel Yergin1 procurava qualificar o mercado petrolífero nos anos 1930. Nos anos 1930, o petróleo era considerado como uma questão de política interna de primeira importância, relacionada com a segurança interna. Agora, 80 anos mais tarde, essa frase é mais verdadeira do que nunca e o petróleo está envolvido num enorme enredo geopolítico ao nível planetário.

O petróleo assumiu-se no século XX com a relevância que o carvão teve para o início da revolução industrial. A sua utilização disseminou-se pelos mais diversos sectores de actividade: quer se trate de carburantes, plásticos ou matérias sintéticas, tem hoje uma presença incontornável. Daí se compreende a importância que o petróleo assume. No início do século XXI (2003), o petróleo correspondia a 35% do consumo mundial de energia primária. Juntamente com o gás natural (21,1% da energia primária consumida), ilustra o domínio dos hidrocarbonetos no consumo mundial de energia.

A omnipresença do petróleo na actualidade determina a sua importância nas relações comerciais. Esta importância foi sofrendo contínuas alterações ao longo das últimas décadas, na mesma medida em que novos países foram emergindo no cenário económico mundial. Estas alterações amplificaram uma já complexa rede de interdependência entre produtores, exportadores e consumidores. Não esquecendo, claro está, o papel de dominação das companhias petrolíferas internacionais.

Já em 1935, Lázaro Cárdenas, presidente do México, expunha alguns dos métodos que envolviam a disputa pelo petróleo. Sobre as companhias petrolíferas dizia que “têm dinheiro, armas e munições para as revoluções. Dinheiro para a imprensa anti-patriótica que as defende; dinheiro para enriquecer os seus incondicionais defensores; porém para o progresso do país, para encontrar uma justa compensação do trabalho, elas não têm dinheiro". Se o modo de acção das companhias petrolíferas fica bem descrito nesta afirmação, a postura dos países relativamente ao petróleo tem outras facetas que vale a pena explorar. O petróleo serve para a manutenção das capacidades operacionais dos exércitos. Mas, sendo assim, serve também, em último recurso, para fazer a guerra. Porém, a guerra também pode ser feita utilizando o petróleo como arma de pressão entre países. Em algumas situações é também a justificação para a própria guerra, como se percebepor exemplo, na guerra do Iraque.

A apresentação visa ilustrar a evolução das dependências relativas à exploração, exportação e consumo de petróleo. É uma análise da geopolítica do petróleo, mas também um desafio à visão dominante que nos forçam a incorporar, expondo os interesses mais nebulosos das relações internacionais relacionadas com esta fonte de energia.


1 Co-fundador da Cambridge Energy Research Associates

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