Cinema e Micro-Resistências

Numa das sessões da iniciativa Socialismo 2010 - Debates para a alternativa, que arranca esta sexta-feira em Braga, Laurent Chavanel e José Cardoso Marques trarão ao debate o cinema e a imagem, falando sobre "os circuitos que dão origem a órgãos que se agregam e formam bolsas de micro-resistências".

02 de setembro 2010 - 18:13
PARTILHAR

Texto que introduz a sessão:

MICRO-

Resistências 

e Cinema

Fui muito tocado pelas páginas de Primo Levi onde explica que os campos nazis introduziram em nós “a vergonha de ser um homem”. (…) E acontece também que sintamos a vergonha de ser um homem em circunstâncias simplesmente irrisórias: face a uma grande vulgaridade de pensar, face a um programa de variedades, face ao discurso de um ministro, face às conversas de “amantes da vida”. É um dos temas mais poderosos da filosofia, o que a torna forçosamente uma filosofia política.1

Vimos propor-vos aqui algumas noções que pertencem ao universo do cinema, essa pluralidade de imagens que acaba por se tornar uma única imagem num outro domínio, a imagem que vemos em prática através das nossas utilizações. A imagem resulta da sondagem. Já não "a verdade 24 vezes por segundo", mas o erro. É por isso que os filmes de Gus Van Sant apresentam uma reflexão sobre um mundo em mutação, cujos primeiros mutantes seriam os diversos marginalizados.

A guerra larvar a que se entregam os thrown away kids em relação aos adeptos do hiperconsumo levanta a problemática de lógicas em contradição. A dos governantes contra aqueles que eles rejeitam e que claramente se excluem de si mesmos…

Paranoid Park

Vamos aproximar-nos do adolescente vulgar que Gus Van Sant descreve. 

Teremos nós que progredir para uma justa percepção das nossas faculdades de ouvir, das nossas capacidades de ouvir-ver, aquelas com que nos equiparam autores como Rossellini ou Vittorio de Seta, de Gomorrha a Waltz with Bachir, bem como o cinema independente? Acto de injustiça, censura, vergonha, seguem todos os tipos de circuitos. Os circuitos dão origem a órgãos que se agregam e formam bolsas de micro-resistências.

Nada poderia ser mais perigoso para o mito da máquina e para a ordem social

desumanizada que ele criou do que recusar-se de uma forma duradoura a ter

interesse por ele, a diminuir a velocidade, a acabar com os hábitos insensatos

e as acções irreflectidas. Mas, de facto, tudo isso não começou já?
2

 


1. Gilles Deleuze, POURPARLERS, Minuit, 2007, p. 233.

2. Lewia Mumford, Le mythe de la machine, citado por Christa Wolf in Cassandre, Ed. Stock. 



 

Termos relacionados: Socialismo 2010