Inicialmente foi apresentada uma perspectiva histórica, desde o século passado até à actualidade, da evolução do rendimento das classes mais remuneradas da sociedade. No início do século passado, essa classe era sobretudo constituída pelo “proprietário/gestor”, ou seja, “alguém que sendo accionista de uma empresa era, ao mesmo tempo, administrador desta com funções executivas”. Actualmente verifica-se uma configuração deste conjunto da sociedade através da “burguesia accionista” que “capta rendimentos através de títulos financeiros” e da “burguesia salarial” (gestores) que “goza de direitos implícitos da propriedade dos accionistas”.
Jorge Costa mostrou através de dados estatísticos que, até à década de 1980, o “rendimento destes accionistas e gestores teve um crescimento médio anual de 4%” o que pode ser encarado praticamente como uma estagnação, atendendo a que, depois desse período, o crescimento foi “muito mais elevado em comparação com outros sectores da sociedade”. Este fenómeno “resultou sobretudo das reformas neoliberais empreendidas pelos governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, que resultaram numa “restauração do poder para a classe capitalista”.
A dinâmica de uma economia neoliberal traduz-se, para Jorge Costa, através da “aplicação do rendimento salarial em aplicações financeiras”, de uma “grande intensidade de transacções bolsistas” e da “criação de mercados financeiros de alto risco que esteve na origem da crise económica e financeira de 2007 e 2008”.
Estas políticas neoliberais criam um “cenário propício a que as camadas burguesas recuperem o rendimento perdido nas crises através da transferência de riqueza por parte das classes trabalhadoras com o seu salário”. Esta interacção entre classes é “intensa sem que na prática se verifique uma rivalidade”.
Por último, Jorge Costa referiu que “em termos estatísticos se verifica que apenas 5% da burguesia accionista e salarial são mulheres”, verificando-se ainda uma “tendência actual para a inclusão de antigos governantes e detentores de cargos políticos nesta classe, de modo a se aproveitar a sua influência na concretização das políticas neoliberais”. A grande chave do modelo de sociedade neoliberal passa pela “privatização das empresas estratégicas públicas”.