Carlos Alberto Montaner: "Desmantelar este anacrónico manicómio"

14 de agosto 2006 - 0:00
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Castro esteve quase a morrer. A hemorragia intestinal e a subsequente operação chegaram duas semanas antes de assinalar os oitenta anos. Foi um aviso. Mais de metade da sua vida passou-a a governar. Há quarenta oito anos que tomou o poder aos tiros e desde ai não o soltou mais. Quando começou o comandante era uma jovem impetuoso e audaz, convencido que sabia como reorganizar a humanidade para que todos se transformassem em ricos e felizes, ainda que o caminho para conseguir tão benévolo propósito fosse à paulada.



A esta altura da história só restam duas perguntas interessantes a fazer sobre a falhada experiência montado por Castro numa pobre ilha: como é que durou tanto tempo no poder um tipo tão excêntrico e disparatado, capaz de realizar façanhas tão improváveis como destruir a centenária industria açucareira, multiplicar por dez os número de prostitutas, fuzilar ou eliminar dezasseis mil pessoas e colocar no exílio quase 15% da população cubana?

Ninguém duvida que o seu governo tenha sido o pior governo que padeceu esse país, incapaz em meio século de conseguir que os cubanos tenham água potável, electricidade, comida e tecto em quantidades minimamente razoáveis, o que faz ainda mais urgente encontrar a resposta: como ainda não foi derrubado um governante tão incompetente?

A segunda pergunta também é obvia: O que acontecerá quando desaparecer? Ao fim ao cabo, à margem desta crise recente trata-se de um velho doente, atacado de Parkinson, que exibe sintomas claríssimos de demência senil, e que foi vítima de vários acidentes cerebrais que afectaram a sua capacidade de comunicar. Balbucia, repete-se, diz coisas incoerentes, faz confusões e mostra-se agressivamente mal humorado perante a menor contrariedade.

No entanto, fala oito horas consecutivas, sem a menor piedade pela velhice alheia, mas mais importante que a resistência das suas exercitadas cordas vocais ou dos seus poderosos esfíncteres, são o conteúdo dos seus discursos: é um pobre homem que não deixa de dizer disparates, para vergonha de uma classe dirigente treinada na obediência de um líder carismático supostamente infalível, e que agora não abe o que fazer perante um velhinho maníaco que ele mesmo desenha vacas anãs e explica-lhes o insondável segredo das panelas de pressão.

A primeira pergunta tem uma resposta bastante simples:

Castro durou quase cinco décadas no poder, apesar de ser um desastroso governante, porque criou uma hermética jaula institucional da qual não há fuga possível. A sua permanência no poder não tem nada que ver com o seu talento como líder, na época em que vivemos, nem com as suas habilidades como estratega. Não são as suas virtudes que o mantém, mas os seus defeitos: a sua falta de escrúpulos e a sua ilimitada capacidade de fazer mal, até aqueles que o rodeiam, como se comprova pelo fuzilamento de Arnaldo Ochoa, o seu melhor general.

Castro controla totalmente o parlamento, o sistema judicial, as forças armadas e os meios de comunicação, ao mesmo tempo que a policia politica vigia, intimida e castiga qualquer membro dessa estrutura de poder que se afaste um milímetro da linha oficial.

Os democratas da oposição – um punhado de mulheres e homens extraordinariamente valentes -, permanentemente vigiados e infiltrados pela segurança do Estado, tão pouco podem actuar para alem dos estritos limites que lhes assinala o aparelho, e, que quando o fazem, os prende, maltrata e mata sem a menor compaixão. Qual é a razão que impede os cubanos de se livrar de Castro? Exactamente as mesmas razões pelas quais os norte coreanos não conseguem sacudir King Jong-il: porque não podem.

Apesar disso, depois da sua morte tudo começará a mudar, provavelmente a um ritmo muito rápido. Porquê? Porque dentro da classe dirigente há uma profunda desmoralização. Não obedecem por convicção, mas pelo medo, e porque sabem que a ditadura nem sequer permite o afastamento voluntário. Ou dobram a cerviz e aplaudem, ou sofrem as consequências. Mas essa humilhante situação começará a mudar no velório do Comandante, quando todos, gregos e troianos, sentirão um imenso alivio quando o ataúde descer na fossa e desapareça a pesada mão com que o ditador lhes agarrava o pescoço.

Esse será o momento em que reformistas do regime – a imensa maioria – e os democratas da oposição, de uma forma organizada e pacifica comecem a desmantelar este anacrónico manicómio.



Publicado pela BBC WORLD 

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