Valério Arcary

Valério Arcary

Historiador e professor universitário em São Paulo, Brasil. Dirigente do PSOL.

A extrema direita explora de forma impiedosa todos os temores e ansiedades que fragmentam a sociedade. Em resumo, faz luta ideológica implacável: mente, confunde e intoxica. Mas o desempenho do governo Lula será importante do contexto das eleições municipais.

A realidade muito complicada que nos cerca impõe reconhecer e assimilar que o Brasil mudou e para pior, muito pior, nos últimos dez anos. O que não é fácil para a geração mais veterana da esquerda, porque a decepção é muito grande.

A divisão entre os assalariados que ganham acima de dois salários-mínimos expressa um ressentimento social que foi manipulado pelo bolsonarismo. Se a esquerda não reconquistar confiança nesta parcela dos trabalhadores o perigo para 2026 é grande.

Se o governo não fizer um giro à esquerda, corre o risco de perder o apoio na fração burguesa que tem um pé no governo e o apoio na sua base social.

O desafio da nova conjuntura no Brasil é aproveitar a oportunidade para abrir uma situação política melhor. Não há muito mistério, nem mágica.

O desfecho do que virá não parece animador. O que está em disputa é uma reconfiguração económica, social e política do mundo tal como o conhecemos.

Na cidade de São Paulo, Boulos superou a candidatura do PT em 2020. Por isso, a sua candidatura em 2024 é muito maior que uma tática eleitoral. Boulos concentra uma aposta estratégica.

A longa vida do peronismo e o futuro da esquerda na etapa pós-Lula.

A condenação de Bolsonaro deve ser um ponto de apoio, e um primeiro passo na luta para impor uma derrota histórica aos fascistas. A extrema-direita preserva grande apoio na massa da burguesia e uma audiência de massas gigante na sociedade brasileira.

O desafio estratégico mais sério que fica sem solução depois de cem dias é a capacidade de iniciativa do governo. A relação social de forças desfavorável não pode ser, eternamente, um álibi.