Leonor Rosas

Leonor Rosas

Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais na NOVA-FCSH. Mestranda em Antropologia sobre colonialismo, memória e espaço público na FCSH. Deputada na AM de Lisboa pelo Bloco de Esquerda. Ativista estudantil e feminista

Há uma fronteira que divide, sem ambiguidades, a humanidade da barbárie: Gaza. Quando se perguntarem o que teriam feito face ao Holocausto, pensem no que fizeram nos últimos dois anos. Quando se perguntarem: ‘porque é que ninguém fez nada?’, pensem no que estão a fazer agora.

O aumento da precariedade das vidas e a perda de rendimentos e segurança do Estado Social causado pelas políticas neoliberais surgem acopladas com a ativa punição daqueles que, empobrecidos e desesperados, procuram soluções ilegais para a desproteção sistémica. A pobreza torna-se, então, um crime.

Serve este texto para interpelar todas as mulheres, que acham que uma cruz displicente num quadrado da extrema-direita nada diz respeito aos seus direitos fundamentais.

Um Presidente fascista senta-se na Casa Branca. Quer apagar a palavra mulher, quer deportar pessoas migrantes, quer travar o caminho para a igualdade étnico-racial, quer furar o planeta à procura de lucro infinito. Não pensei, ingenuamente, que teríamos de lutar por tanta coisa novamente.

Este artigo é apenas um desabafo: sobre o tempo que vai passando e nos deixa a todos mais dados a estas coisas, sobre uma data que me desencanta e sobretudo sobre as coisas que temos de nos resolver a fazer.

O ato de procurar compreender o que se passa em Gaza não é apenas uma opção informativa, mas um imperativo moral de toda a gente em todo o mundo. Não há distância territorial, diferença cultural ou alteridade linguística que justifiquem a incompreensão ou banalização do que se vem passando na Palestina.

Terão sido estas eleições francesas o primeiro sabor de esperança para muitas de nós? Sem dúvida, na minha coleção de esperanças que nos fazem continuar, guardarei carinhosamente as imagens de uma França que se recusa à submissão.

Face à ideia de que a guerra é um estado natural, a única resposta é a objeção de consciência à obediência acrítica, à hierarquia, à destruição, à morte. Serviço Militar Obrigatório? Cá estaremos para lhe desobedecer.

Na nossa infinita pluralidade como mulheres (...), somos todas vítimas de uma opressão que se baseia num corpo (controlado, vigiado, regrado, avaliado, agredido, violado, menosprezado). Talvez um dia o corpo que ocupamos pouco ou nada importe. Estamos ainda longe desse dia.

Estes foram os meus livros preferidos de 2023, que me ensoparam até aos ossos como a chuva do Cortázar.