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Maré humana na capital tunisina na abertura do ‘Fórum da Dignidade’

A mobilização partiu quase às 5 da tarde hora local, da Praça 14 de Janeiro, na confluência das artérias centrais Burguiba e Mohamed V, percorrendo mais de seis quilómetros até ao Estádio Menzah, onde chegou duas horas e meia mais tarde e onde se realizou uma festa popular com discursos e concertos. Por Sergio Ferrari, Adital.
"Alguns meios internacionais de imprensa calcularam em torno de 30 mil os participantes da marcha"

A marcha esteve encabeçada por um grupo de pessoas com deficiência. Organizações de esquerda italiana formaram a retaguarda. Mais de um quilómetro separava uma da outra. Alguns meios internacionais de imprensa calcularam em torno de 30 mil os participantes da marcha.

Uma mobilização realmente impressionante, disse para este correspondente, um jornalista gráfico de uma agência alternativa local, com experiência neste tipo de convocatórias.

"Importante para recuperar o ânimo tanto de nós como das forças democráticas do Magreb”, indicava por sua parte Vladimiro Lanello, militante associativo italiano presente pela primeira vez no Fórum Social Mundial.

Menos musical que as manifestações típicas dos fóruns anteriores na África e América Latina, ainda que com um particular tempero festivo, a marcha da Tunísia expressou também uma forte politização política, com a presença dominante de representantes do Magreb/Mashrek. Desde setores políticos antagónicos locais até forças opositoras do Egito com uma abundante participação de diversas organizações palestinas.

Palestina será uma temática chave desta edição do Fórum e constituirá o eixo da convocação da marcha de encerramento do FSM no próximo sábado 30 de março.

A Marcha Mundial de Mulheres, Via Campesina, diferentes redes mundiais e regionais, Amnistia Internacional, ATTAC, o Comité pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, os povos negros do Brasil e numerosas organizações da região anfitriã fizeram-se visíveis com cartazes e bandeiras.

A presença da Associação dos Tunisinos Vítimas da Migração, encabeçada por várias mulheres vestidas de luto – mães dos emigrantes desaparecidos especialmente na Itália – contribuiu com uma nota de particular emoção ao cortejo.

"São mais de 800 os jovens tunisinos mortos ou desaparecidos na tentativa de emigrar clandestinamente do país nos últimos dois anos”, assinalou a jovem Ayani Hamida, cujo irmão Ali enviara um último sinal ao chegar ao porto italiano de Lampedusa, depois do qual não se teve notícia alguma dele.

A marcha pacífica viveu pequenos momentos de tensão que não chegaram a maiores ao se enfrentar com sinais antagónicos um grupo minoritário ligado a Ennahda – Partido do Renascimento – no Governo da Tunísia e os manifestantes da oposição local de esquerda.

O Fórum Social Mundial abriu as suas atividades autogeridas nesta quarta-feira (27) na Universidade Manar. Nos dias 29 e 30 cerca de cinquenta "assembleias temáticas de convergência” realizar-se-ão na avenida central Burguiba, segundo informou a este correspondente Kamal Lahbib, presidente do Fórum das Alternativas de Marrocos e membro do Conselho Internacional do FSM. No que constitui uma inovação criativa "esses eventos buscarão enriquecer-se com a presença dos habitantes da capital”, argumentou.

Lahbib confirmou também que até à manhã do dia da abertura "haviam-se inscrito 30 mil participantes” vindos de mais de 120 países. A diferença de outras convocatórias anteriores, "a credencial concedida pelo FSM não será uma condição para entrar nas atividades previstas no centro universitário da capital”.

Artigo de Sergio Ferrari, Correspondente latinoamericano acreditado na ONU, Genebra, Suíça, publicado em Adital

política: 
fsm 2013
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Neste dossier:

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