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Revisão da literatura – a legalização da canábis aumenta o consumo entre os jovens?
Na revista “Preventive Medicine Reports”, Alexandra Zuckermann et al. (Março 2021)[1], apresentam-nos resultados de uma coorte prospectiva, o estudo COMPASS, que avaliou a utilização de canábis recreativa entre alunos do ensino secundário dos estados de Alberta, Colúmbia Britânica, Ontário e Quebec. Os autores analisaram o consumo antes e depois da legalização da canábis, durante um período de 4 anos, não tendo encontrado diferenças significativas em todas as variáveis estudadas. Concluem que a legalização da canábis não produziu alterações na frequência do consumo, nomeadamente não aumentou o consumo de canábis entre adolescentes após a legalização.
Na revista “International Journal of Drug Policy”, Hannah Laqueur et al., (2020)[2], publicam os resultados de um estudo que analisou o consumo de canábis e a percepção do risco associada, entre alunos do ensino secundário de áreas urbanas e rurais, nos anos antes e após a implementação da lei que legaliza a canábis. Os autores não encontraram qualquer evidência nos padrões de consumo ou percepção de risco.
m ambos os estudos, os autores ressalvam que os dados ainda são insuficientes para demonstrarem efeitos de longo prazo, uma vez que os processos de legalização ocorreram recentemente, não deixando de referir, no entanto, que a legalização da canábis, em ambos os países, carrega a expectativa de diminuir o consumo problemático da canábis. Há, ainda assim, diferenças nos quadros regulamentares que podem justificar resultados diferentes no futuro: o modelo uruguaio assenta na distribuição não comercial da canábis, com forte incentivo ao auto-cultivo e a modelos de pequenos produtores-consumidores, ao passo que o modelo canadiano é puramente comercial, embora altamente regulado. Como referem os autores do segundo estudo: “há uma vasta gama de políticas possíveis de legalização, não devendo o tema ser reduzido a uma escolha binária entre proibição e modelos comerciais”.
Os modelos de legalização são ainda muito recentes, mas o que ambos os estudos parecem confirmar é a previsão de que não é a legalização da canábis que aumenta o consumo da mesma, sobretudo entre os adolescentes. O que aliás está em linha com os dados dos países onde a substância ainda é proibida e onde o consumo da mesma tem vindo a aumentar nos últimos anos.
Zuckermann AME, Battista KV, Bélanger RE, et al. Trends in youth cannabis use across cannabis legalization: Data from the COMPASS prospective cohort study. Prev Med Rep. 2021 Mar 11;22:101351.
Laqueur H, Rivera-Aguirre A, Shev A, et al. The impact of cannabis legalization in Uruguay on adolescent cannabis use. Int J Drug Policy. 2020 Jun;80:102748.
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Esquerda Saúde 2
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