Zorrinho, líder parlamentar do PS e habitual porta-voz de Seguro, usa hoje o Correio da Manhã para atacar a esquerda:
"Porta-vozes das esquerdas de protesto têm insinuado que se este desgoverno PSD PP ainda pode ambicionar cumprir a legislatura isso se deve ao PS. Não têm razão. Basta ter em conta que BE PCP e Verdes declinaram o apoio ao PS na exigência de outro caminho durante a erupção da crise política verificada em julho."
Por vezes, não é muito fácil seguir o raciocínio deste dirigente do PS. Não se percebe a que se refere o homem. A esquerda "declinou o apoio ao PS na exigência de outro caminho"? O que é que isto quer dizer? Todos os partidos de esquerda votaram a favor da moção de censura que o PS apresentou (já o PS absteve-se nas moções do Bloco e do PCP). Mais ainda: o Bloco dispôs-se a reunir com o PS para discutir uma plataforma para um governo contra a troika, propôs uma reunião sem condições para iniciar esse trabalho, e o PS enxotou a delegação do Bloco com um comunicado ofensivo, recusando essas reuniões porque estava envolvido em negociações com o PSD e o CDS e só aceitava uma plataforma com a direita.
De que é que Zorrinho está a falar? Acha que a esquerda devia apoiar o entendimento do PS com o PSD e CDS que, pelos vistos, esteve à beira de ser consagrado, não fora a intervenção de Mário Soares?
E. se Zorrinho se refere, como gosta de fazer, ao apoio ao PEC4 e à sua lenda, pois hoje mesmo tem um facto incontornável: o governo PSD-CDS começou a privatização de uma parte importante da CGD (os seguros), que o PS tinha inscrito no seu programa de governo, nos seus PECs e depois no acordo que fez com a troika. Aqui está o PS a dirigir a direita "no outro caminho".
Bem sei que no Correio da Manhã não há contraditório e que o feliz colunista escreve assim umas coisas assim-assim. Mas, na política, exige-se um pouquinho de consistência, pelo menos saber para onde se vai.