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Viva Marisa!
Marisa Matias fez uma campanha empolgante e a sua mobilização eleitoral quase proporcionava uma segunda volta. Teve mais votos que Maria de Belém e Edgar Silva juntos, quase metade da votação de Sampaio da Nóvoa. Quem pensou que o resultado do Bloco nas legislativas era mero fruto de uma campanha eficiente, pense outra vez. O Bloco ocupa um espaço novo face à sua história anterior e é a força ascendente deste ciclo de esperança e expectativa.
Pelo contrário, Maria de Belém incarnou a oposição aos acordos com Bloco e PCP e sofre uma derrota impressionante nestas tristes "primárias", o nome que António Costa deu ao desastre presidencial do PS. Pois, no Largo do Rato, devem olhar bem para os resultados. Costa ajudou a lançar Nóvoa para ocupar espaço à sua esquerda, mas quase meio milhão de eleitores voltou a preferir, agora com o voto em Marisa, dar força à voz do Bloco, autonomia e exigência perante a governação, disponibilidade e combatividade, abertura e transparência de posições. Foi também aí que Marisa se tornou tão diferente dos outros, a começar na crítica ao assalto europeu ao Banif. O Bloco é uma garantia e essa garantia vale mais depois destas eleições.
Nos próximos dias, será interessante acompanhar a leitura dos resultados pela parte do PCP. É difícil desligá-los da condução do partido ao longo do ciclo pós-legislativas, até porque Edgar Silva não conseguiu mobilizar a maior parte dos eleitores comunistas de outubro passado, que se abstiveram ou escolheram outras candidaturas.
Os tempos não estão fáceis para quem queira mudanças reais. E, com Marcelo em Belém, só fica tudo mais difícil. A resposta tem de aprender com os resultados de ontem: precisamos de manter objetivos claros e o compromisso forte com quem merece ter o seu país de volta.
Comentários
Caro Jorge,
Caro Jorge,
Sou mais realista do que tu - ou tenho um outro olhar? - mas simplesmente diria que a Marisa não ameaçou nada, a não ser uma pretensa estabilidade do voto na esquerda. Marcelo "varreu" o país, ganhou em todos os distritos, goste-se ou não. Marisa reafirmou a votação do Bloco nas legislativas e, chamem-lhe o que quiserem, segurou um voto seguro (o que não é pouco), exprimindo que o BE não é "uma pessoa", mas uma causa, um projeto, algo que transcende a figura de um/a qualquer líder.
Revejo-me nisso e aposto nisso porque vejo um BE multifacetado, mas não me cabe ver nisso um resultado potenciador de seja o que for; daqui a 5 anos, se a Marisa Matias voltar a correr para a presidência, corre o risco de fazer ainda mais mossa, mas à esquerda. Recordaremos as palavras "simpáticas" de Passos Coelho relativamente a Marcelo há uns meses atrás e a capacidade contorcionista agora evidenciada? Dava jeito..., e sempre que assim for, a direita mobiliza-se.
Marisa valeu pelo desafio que lançou - e acredito que vai fazer sentido daqui a uns anos, até pelo currículo que ela vai acumular, entretanto, acrescentando ao que já tem, mas Marcelo era incontornável; uma presença feita décadas a fio nos massmedia não é facilmente rebatível. Daqui a 5 anos, o Marcelo é apenas visto como "o presidente". E aí, Marisa Matias é um desafio diferente: não temos tradição de presidentes que não façam o segundo mandato, mas até onde vale a tradição?
Marisa poderá ser presidente - desejo-o - mas há trabalho de bastidores a fazer, desde agora, para convencer um povo desconfiado, que dificilmente aposta na alternativa, que sempre prefere garantir a alternância. Marcelo é hoje alternância a um governo "maldito", que ganhou lugar sem direito, uma espécie de seguro... A direita ri-se porque entende (também ingenuamente) que, mais dia menos dia isto são favas contadas: Marcelo dá jeito entretanto, mas deixa de fabricar a imagem semanal... e , quando não fizer falta, corre-se com ele (ele apaga muita gente de direita interessada em ter protagonismo).
Acho que Marisa, até pela sua idade, abriu portas novas (não caixas de pandora :), e ainda bem que o fez- mas não fechou nada, querendo com isto dizer, há trabalho de..., tipo corrida de fundo a fazer para que, daqui a 5 anos ela se apresente como uma verdadeira alternativa a um presidente que está a negociar o seu 2º mandato (até agora, diz a tradição, sempre garantido...)
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