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Viva Marisa!

Uma campanha empolgante e uma votação histórica. O Bloco é a força ascendente e ocupa um espaço novo. Marcelo quase teve que ir à segunda volta.
A direita perdeu, nas legislativas de outubro, a maioria há muito perdida no país. Por isso, a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa obriga a um novo olhar sobre a importância do entretenimento político numa democracia como esta. Como responsável partidário, Marcelo foi sempre um derrotado, mas como comentador, chegou a presidente da República. Na sua nova-velha pele, tentará conciliar objetivos contraditórios: primeiro, ser útil à direita para quebrar a atual maioria; segundo, preparar uma reeleição folgada, ao estilo de Mário Soares.  
 
Marisa Matias fez uma campanha empolgante e a sua mobilização eleitoral quase proporcionava uma segunda volta. Teve mais votos que Maria de Belém e Edgar Silva juntos, quase metade da votação de Sampaio da Nóvoa. Quem pensou que o resultado do Bloco nas legislativas era mero fruto de uma campanha eficiente, pense outra vez. O Bloco ocupa um espaço novo face à sua história anterior e é a força ascendente deste ciclo de esperança e expectativa.

Pelo contrário, Maria de Belém incarnou a oposição aos acordos com Bloco e PCP e sofre uma derrota impressionante nestas tristes "primárias", o nome que António Costa deu ao desastre presidencial do PS. Pois, no Largo do Rato, devem olhar bem para os resultados. Costa ajudou a lançar Nóvoa para ocupar espaço à sua esquerda, mas quase meio milhão de eleitores voltou a preferir, agora com o voto em Marisa, dar força à voz do Bloco, autonomia e exigência perante a governação, disponibilidade e combatividade, abertura e transparência de posições. Foi também aí que Marisa se tornou tão diferente dos outros, a começar na crítica ao assalto europeu ao Banif. O Bloco é uma garantia e essa garantia vale mais depois destas eleições.

Nos próximos dias, será interessante acompanhar a leitura dos resultados pela parte do PCP. É difícil desligá-los da condução do partido ao longo do ciclo pós-legislativas, até porque Edgar Silva não conseguiu mobilizar a maior parte dos eleitores comunistas de outubro passado, que se abstiveram ou escolheram outras candidaturas.  

Os tempos não estão fáceis para quem queira mudanças reais. E, com Marcelo em Belém, só fica tudo mais difícil. A resposta tem de aprender com os resultados de ontem: precisamos de manter objetivos claros e o compromisso forte com quem merece ter o seu país de volta.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Jornalista.
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