Tem sido difícil para quase todos. Disse-o Pedro Passos Coelho no discurso do Pontal. No meio de tantas 'inverdades' como agora lhes gostam de chamar mas que na realidade não significam nada de diferente de 'mentiras', o Primeiro Ministro vai começando a dizer, subrepticiamente, como quem quer prevenir qualquer dedo apontado, uma verdade ou outra. Neste caso, a verdade está na palavra 'quase'.
Tem sido difícil para quase todos, mas não exactamente para todos. Tem sido difícil para os desempregados, para os funcionários públicos, para os aposentados, para a classe média e baixa e para todas as tonalidades pelo meio.
Mas não tem sido difícil para os grandes grupos financeiros, nem para as empresas privadas que mantêm negócios de milhões com o Estado Português na forma de Parcerias Público-Privadas. Não tem sido difícil para as instituições que aguardam a qualquer momento mais contratos de rendas públicas para a saúde, para a educação, para a mobilidade ou as comunicações. Não tem sido difícil para os credores de um suposto empréstimo que desde o início não passou de um saque e de uma forma de engordar cada vez mais os capitais daqueles para quem a crise e a austeridade nunca foi nem nunca será difícil.
Pedro Passos Coelho falou ainda outra verdade. Disse o que pensa sobre os pilares que fazem deste pedaço de terra um país. Os princípios constitucionais que deviam garantir a qualquer cidadão o acesso à educação, à saúde, à habitação, à identidade, à liberdade, ao emprego e ao salário são para o Primeiro-Ministro 'riscos' que o poderão desviar do caminho que traçou, da ideologia que insiste em impor a um país já queimado, apagado, consumido. Sempre mais e mais austeridade, disfarçada de sacrifícios por uma causa maior. Sabemos que essa causa maior se chama Finança.
A terceira verdade do discurso de Passos Coelho foi o reconhecimento de que “nunca estivemos tão próximos de chegar ao nosso objectivo”. Efectivamente nunca estivemos tão próximos de atingir os seus objectivos: a aniquilação do Estado Social e da Constituição da República Portuguesa. Pela via da receita ou da despesa o objectivo é empobrecer cada vez mais o país, alienar cada vez mais os trabalhadores do produto do seu trabalho, torná-los cada vez mais humilhados, mais desesperados, mais dispostos a tudo para sobreviverem. Sobretudo, cada vez mais impotentes e submissos. Só assim se cria uma massa amorfa de mão de obra barata que satisfaça, sem protestos e contestações, a sede incessante de lucro dos donos do capital. Transformar os lucrativos sectores da saúde, educação, mobilidade e comunicação em negócios privados e acabar de vez com o conceito de solidariedade. Aprofundar cada vez mais as desigualdades sociais e acabar com a igualdade de oportunidades. Passar da distribuição horizontal de riqueza às moedas lançadas às mãos estendidas nas portas das Igrejas. São estes os seus objectivos. Sempre foram desde o início. A arrogância é agora tanta que já nem se esforça por os mascarar.
As verdades do primeiro-ministro cheiram a bafio salazarento. A uma época e a uma vida a que os Portugueses não querem voltar e não querem para as gerações futuras. Saberão por isso certamente responder ao repto de Passos Coelho e nas urnas explicar-lhe claramente que esses não são os 'nossos' objectivos.