Vencer a direita, mudar de vida

porManuel Afonso

01 de abril 2025 - 16:45
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No que toca aos interesses da maioria do povo, é entre o retrocesso e o avanço da esquerda de combate que se medirá o sucesso destas eleições. E é também aí que reside o verdadeiro ponto de apoio para o combate à extrema-direita.

As eleições ainda agora foram marcadas e já estão ao virar da esquina.

O contexto destas eleições é conhecido: uma situação defensiva para as esquerdas e a classe trabalhadora, a nível nacional e internacional, impulsionada pela ascensão da extrema-direita turbinada pelo apoio de cada vez mais setores do grande capital. Isto, em plena corrida armamentista e crescimento de tensões geopolíticas que fazem soar cada vez mais os tambores de guerra, inclusive nuclear. É certo que este cenário só será invertido por grandes mobilizações sociais e pela construção de um campo unitário de esquerda que confronte o neofascismo e a ordem neoliberal que o sustenta. Esta transformação não se dará nestas eleições, mas elas podem ser terreno para darmos um (ou vários) passos em frente. Ou, caso corram mal, atrás.

O que está em jogo não é pouca coisa e as responsabilidades são grandes. A maior exigência recai sobre o PS. Não é impossível que, caindo Montenegro em desgraça, Pedro Nuno Santos acabe em primeiro. A aposta do PS é esta: fazer da campanha um concurso sobre a seriedade de cada líder, deixando a política para segundo plano. Se vencer assim, Pedro Nuno terá uma vitória tática, mas fica preso num pântano estratégico. Sem uma política para mudar a vida de milhões de pessoas, que mobilize amplas camadas populares contra a direita, não tem como inverter a situação política a seu favor. Ou seja, não tem como romper o cerco de uma maioria parlamentar das direitas, mesmo acabando as eleições na frente. Dado que o líder «mais à esquerda de sempre» do PS alcançou o comando partidário através de uma aliança com as alas direitas do partido – Francisco Assis, Sérgio Sousa Pinto, Ricardo Leão, etc. –, não pode fazer essa viragem. Está preso a esta aliança sem princípios. Por isso, mais facilmente aponta o dedo à imigração, exigindo a assimilação cultural dos imigrantes de uma maneira que nem o Chega ousa, do que fala de aumentos de salários, investimento na saúde ou tetos às rendas. O voto útil neste meio termo centrista não garante a derrota das direitas e contribui para o enfraquecimento da esquerda que não aceita os termos da extrema-direita e não hesita entre defender quem trabalha face aos grandes interesses económicos.

Sabemos que, como no passado, o Bloco de Esquerda não faltará a uma solução que afaste a direita do poder, caso o cenário se coloque. Não é, por isso, o voto no mal menor para correr com a direita que está em causa para o povo de esquerda. A questão nestas eleições é outra. Não é indiferente para quem trabalha que o novo ciclo político aconteça com uma esquerda diminuída ou, pelo contrário, que se paute pelo reforço de quem não hesita em defender as maiorias trabalhadoras contra a minoria oligárquica. Só daqui virá a defesa intransigente dos tetos às rendas e o combate à especulação; os direitos dos trabalhadores por turnos, o alívio das vidas duras de quem pena o dia inteiro por um salário mínimo; a coragem de enfrentar os grandes grupos económicos para baixar o preço do pão, da luz ou do transporte. Para os combates estratégicos do antirracismo, do feminismo, das pessoas LGBTQIA+, que são também os da casa, do trabalho e do planeta, faz toda a diferença se o Bloco de Esquerda avança ou retrocede. O mesmo na defesa da segurança de verdade, a que não troca o investimento em escolas e hospitais pelo despesismo suicidário da guerra. A direita é inimiga destas causas, o PS nada faz por elas.

No que toca aos interesses da maioria do povo, é entre o retrocesso e o avanço da esquerda de combate que se medirá o sucesso destas eleições. E é também aí que reside o verdadeiro ponto de apoio para o combate à extrema-direita. Cada jovem e trabalhador antifascista deve perguntar-se: «Em quem é que os fascistas e os grupos mediáticos e empresariais que os apoiam não querem que eu vote de maneira nenhuma?» Sabemos a resposta à pergunta e é mesmo aí que temos de votar.

Porém, antes do voto existe a campanha. O desafio está lançado. O mundo está demasiado perigoso para que nos contentemos em ser espetadores nestas eleições. Há que tomar partido: fazer campanha, bater a cada porta, entrar em jogo para que as ideias anticapitalistas conquistem os corações e as mentes do nosso povo. O Bloco apostará numa campanha diferente, feita de propostas populares de rutura com a ditadura dos mercados, assente em mobilização de base, alegria e esperança, junto dos bairros populares, falando diretamente com milhares de trabalhadores. Há lugar para toda a gente neste combate.

Tu, que tiveste a paciência de ler estas linhas até ao final, podes fazer a diferença. Inscreve-te como voluntário/a na campanha do Bloco e, com coragem e alegria, vamos à luta.

Manuel Afonso
Sobre o/a autor(a)

Manuel Afonso

Assistente editorial e ativista laboral e climático
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