Se fosses cá de Setúbal, eu dizia-te, holandês, vai andando, mano. É um dito da cidade. O substantivo mano não tem qualquer conotação com irmandade. Tem mais a ver com o reconhecimento do outro, com a constatação de que se está perante alguém que não é nem mais nem menos que nós.
Holandês, vai andando, mano. Leva o teu mestrado inventado, inexistente, forjado, na mochila. Se não usas mochila, guarda-o na pasta de executivo europeu.
Cá em Portugal, este país de boa pinga, também houve um primo teu que foi à vida, foi andando, depois de se descobrir que com duas cadeiritas já era doutor. Tu, que és da mesma cepa, apostaste mais forte. Mestrado. Declaraste no teu prodigioso currículo ter um mestrado em Economia Empresarial, pela University College Cork (UCC). Só que esse mestrado nunca existiu naquela instituição.
Parece que passaste por lá durante uns meses, pequenitos, que isto de estudar é coisa que dá trabalho. Parece que passaste por lá, e que terias estado numa investigação sobre economia agrícola. Investigaste o quê? Descobriste alguma coisa, pá? Quando declaraste aquele mestrado que não existia, estavas bêbado?
Europa desnorteada, decadente e prostituída. Europa aldrabona, fictícia, alarve. Europa míope, criminosa, a sacudir refugiados da lapela como se fossem formigas imprestáveis. O holandês é apenas um fidelíssimo representante desta Europa de trastes, de tratantes, em permanente bebedeira austeritária. A superioridade moral deste holandês trapalhão há-de ficar inscrita nos códigos da pouca vergonha.