Uma greve para falar de todo o descontentamento

porFrancisco Louçã

24 de maio 2007 - 0:00
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Um dirigente partidário surpreendeu, há poucos dias, afirmando que uma greve geral não precisa de ser geral. O que certamente não pode ser é um vale tudo: a greve, para ter peso social, deve conseguir demonstrar a voz do descontentamento social. Vale a pena por isso discutir o que é que uma greve geral precisa de ser.

Muitos trabalhadores sentem a dificuldade: em grandes empresas como em serviços públicos, em sectores em dificuldades como no comércio, a greve é um sacrifício para os trabalhadores e as pressões são muito grandes. Por isso, muitas e muitos se perguntam se tem sentido perder esse dia de salário. O governo tem os seus aliados: a rotina, a passividade, o desinteresse, o individualismo, a fragilidade de algumas lutas sindicais, a alta taxa de desemprego, a precarização das relações laborais. São todos esse que temos que vencer para que a greve seja a voz geral do descontentamento.

Uma greve geral deve mobilizar em unidade todos os que estão ameaçados. Como se vê agora com a lenta desagregação da Delphi, ou ontem da Yazaki Saltano, se só se mobilizam os trabalhadores que estão hoje na lista dos despedimentos, essa lista vai sempre crescer. Os trabalhadores da Auto-Europa têm lutado pela passagem a efectivos dos precários, e têm conseguido, e é isso que lhes dá força para todos juntos defenderem os seus interesses. Uma greve geral precisa de todos juntos.

Uma greve geral não pode depender de uma ordem partidária. O sindicato não é de nenhum partido, se é de todos os trabalhadores. A greve precisa de juntar toda a força. Precisa de reuniões nas empresas, e não de cartazes colados nas paredes. Precisa de ouvir e fazer falar os trabalhadores, não de ordens. A greve só pode ser construída a partir de baixo, não pode ser empurrada a partir de cima.

Uma greve geral precisa de objectivos concretos. Enfrentar o despedimento na Função Pública. Combater as deslocalizações e falências fraudulentas. Combater a aliança que promove o desemprego, e defender as vítimas, meio milhão de homens e mulheres. Melhorar as pensões de reforma. Todos eles desafiam o governo e a sua insensibilidade social.

O governo Sócrates atacou em todas estas frentes. Começou a aumentar a idade da reforma e a diminuir as pensões. Começou os despedimentos na Função Pública. Apoiou a ofensiva social do desemprego e chora lágrimas de crocodilo por cada deslocalização. O governo pode ser parado e pode ser vencido. A greve tem esse sentido: se for muito alargada, dirá que o descontentamento não se calou. É essa voz que precisamos de fazer ouvir no país.

Francisco Louçã
Sobre o/a autor(a)

Francisco Louçã

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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