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Uma dose de louro para o Abel
Se um dia destes uma manifestação conjunta da PSP e de autarcas lhe oferecer louro prensado sob a forma de haxixe como prova de publicidade enganosa, não estranhe: pode estar na Baixa de Lisboa. Ao passear nas ruas do Centro Histórico nada de pensamento alimentado a carvão. A venda ambulante não se resume a castanhas em pequenos "wagon-lits" onde repousam quentinhas. O Comando Metropolitano da PSP de Lisboa e a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior uniram-se numa iniciativa inédita a nível nacional para a erradicação de um fenómeno local com ramificações alarmantes: indivíduos sem THC de vergonha preenchem 80% da venda ambulante na Baixa de Lisboa com uma oferta desonrosa para o bom nome do tráfico, vendendo louro prensado e chá de malvas como se de haxixe se tratasse. Aconteceu na Lisboa que amanhece, ontem, sem que Sérgio Godinho apregoasse a sua canção.
Fazem-no há anos, com carácter familiar e descendência assumida, e sem que alguém toque à campainha da Deco. Não cometem um crime, usam-no como forma de atracção serpentina. Iludem turistas, burlam autóctones. Mau ambiente, insegurança e alarme social. O slogan-panfleto da manifestação "Basta de louro prensado!" brilha como louro merecedor de todos os ouros. Não há quilate que aguente esta pérola: "Psssst! Há louro mais barato na mercearia", lê-se em folheto bilingue. Evocando Bill Clinton, que venha alguém que inale mas não engula se isto não são relações públicas do mais alto calibre internacional. Certificação de qualidade psicoactiva, exige-se.
O momento "sui generis" da capital do país irá adensar-se à medida que se aproximam as eleições autárquicas, como fumo contido em salas de chuto ou armas de arremesso. É sabido que Assunção Cristas se faz acompanhar na boa ventura e bons desejos pelo coordenador autárquico do PSD, Carlos Carreiras, indiferente perante a possibilidade de Teresa Leal Coelho ganhar a corrida a Assunção. O que não tinha ainda ficado suficientemente claro é quem acompanha Assunção Cristas na vice-presidência do CDS da concelhia distrital de Lisboa. Basta atentar em algumas (entre tantas outras) declarações do psicólogo clínico Abel Matos Santos para perceber como a concretização do direito de tendência "Esperança em Movimento", será um fartote de reaccionarismo-regabofe-conservador-cristão no CDS. Quem acha que festejar o 25 de Abril é comemorar "a liberdade de abortar, de mudar de sexo de manhã e à tarde" e que "a verdadeira santidade e grandiosidade de Salazar foi não ter liquidado ninguém quando o podia ter feito" no momento em que Portugal "era um país a sério e governado por gente a sério", está mesmo a precisar de uma dose de louro antes de ser mandado às malvas.
Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 5 de abril de 2017
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