Um terremoto anunciado

porNuno Pinheiro

08 de julho 2024 - 22:13
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Depois de 14 anos de governo conservador com uma enorme sucessão de erros e trapalhadas, aconteceu o que se esperava, uma enorme derrota dos Tories. Porém, o sistema eleitoral desproporcional faz a mudança parecer maior.

Depois de 14 anos de governo conservador com uma enorme sucessão de erros e trapalhadas, aconteceu o que se esperava, uma enorme derrota dos Tories. Porém, o sistema eleitoral desproporcional faz a mudança parecer maior.

14 anos de governo, cinco primeiro-ministros levaram o Partido Conservador à perda de 252 deputados, o pior resultado em 250 anos. Depois destas eleições, os trabalhistas têm 412 de 650 lugares, mas não são estas as únicas mudanças. Os liberais democratas, resultado da união entre o velho partido liberal e uma cisão trabalhista, o eterno terceiro partido, com uma representatividade muito limitada pelo sistema eleitoral, conseguiu, mantendo uma votação semelhante, passar de 4 para 71 deputados. A extrema direita de Farage, na sua oitava tentativa, acaba por, com cerca de 14% dos votos, eleger 5 deputados. Menos falada é a derrota do Partido Nacional Escocês que perdeu 37 lugares, passando para apenas 9, ou o facto de o partido com maior representação de entre os da Irlanda do Norte, ser o Sinn Féin.

As mudanças de sentido na votação, à exceção da descida dos conservadores, não são assim tão grandes, mas o sistema não proporcional e a maior dispersão de votos à direita, leva a este terramoto.

As razões para a derrota conservadora são, além das que conhecemos noutros países, perda de poder de compra, degradação dos serviços públicos, algumas próprias ao Reino Unido; um brexit baseado em mentiras e demagogia que correu mal, uma política de emigração que prevê deportações para o Ruanda; o muito curto e desastroso governo de Liz Truss com um choque fiscal ultraliberal que rapidamente foi revertido. A derrota dos Tories não se fez sentir só nos números, alguns dos seus nomes fundamentais falharam a reeleição. A própria Liz Truss não foi eleita, assim como o eterno candidato a leader Rees-Mogg, Penny Mordaunt, que levou a espada do rei na coroação, o ministro da defesa, Grant Shapps , entre outros ministros do governo Sunak. Isto é importante, porque no sistema do Reino Unido é necessário ser eleito deputado para ser ministro ou mesmo leader do Partido Conservador. A sucessão de Sunak vai ser um problema.

É interessante perceber que há um “sexto partido” com cinco candidatos independentes pró-palestiniados (quando o Labour não pretende alterar o apoio a Israel) o que não espantará quando existe uma enorme comunidade muçulmana.

Nuno Pinheiro
Sobre o/a autor(a)

Nuno Pinheiro

Investigador de CIES/IUL
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