Rui Moreira será candidato à Câmara do Porto no final deste próximo ano com o apoio do CDS. Um patrão de patrões fica sempre bem ao partido do contribuinte. Ainda para mais tratando-se de "um qualificado cidadão do Porto" como o classificou Manuel Pizarro (a estima é tanta que Pizarro não se fez rogado em lhe servir de porta-voz aquando da sua demissão da Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto). "Chegou o tempo de agir" é o que escreveu o candidatíssimo em antevéspera de Natal, e deixou o aviso - "Sim, este vai ter de ser um inverno quente." (Jornal de Notícias)
As orelhas que se aquecem são, claro, as de Menezes, candidato de Miguel Relvas e do Governo que este tem por hábito comandar. Para a refrega Rui Moreira conta já com aliados de peso, como é o caso de Miguel Veiga, o senhor PSD, de António Lobo Xavier, o senhor SONAE, e, escrevem os jornais pouco recomendados, Rui Rio, que o prefere como o dos males o menor. A guerra das capelas não respeita o espírito da época. O tempo é de eucaristia, nesta política bafienta alguém tem de perecer.
No seu artigo Rui Moreira escreve o programa político - "Sucedem-se os governos e a cada um que chega, atribuímos-lhe o título de campeão do centralismo, para logo ser derrotado, nessa competição, pelo Governo que se segue." Desengane-se quem achar que haverá alguma redenção programática no ano que aí vem. Rui Moreira quer ser o candidato do Norte. Por isso fala na falência da Metro do Porto, no QREN que Lisboa roubou, no fecho da Lusa, no Porto de Leixões, no "Praça da Alegria" que a RTP quer que passe a alegrar na capital. Haja quem represente o povo do Porto e a cidade continuará invicta ao poder centralista e invasor. "Esse destino que nos vão apontando pode, ainda, ser contrariado".
Há, contudo, neste conto de natal que Rui Moreira apresenta à cidade do Porto pontos que faltam. Falta a Rui Moreira contar porque saiu da Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto mas permaneceu na STCP, que o poder centrifugador do centralismo quer privatizar. Ou então o que o fez estar nas jornadas do CDS-PP, em setembro de 2011, num elogio às "suficientemente prudentes medidas fiscais" do novo Governo. É que de nada adianta a um portuense ter o Metro a funcionar se o Governo lhe tira 30% do salário em sucessivos assaltos fiscais. De nada adianta ao Porto um partido do contribuinte ou um seu clone que lhe diga que pode participar na Praça da Alegria mas que este programa passa a exaltar o despertar matinal da senhora dos Santos. A troika existe mesmo, e quer mandar do Minho ao Algarve. A divisão é a classe, uma divisão que o Porto conhece bem.
Bem sei que para um monárquico, que pertence até ao conselho superior da Causa Real, pode ser difícil ver que estas escolhas da democracia republicana se fazem com a frontalidade de quem quer uma cidade para os seus. E todos sabemos que o Natal já terminou.