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Um ensaio de repressão em Setúbal

O pacote do FMI/BCE contém uma cláusula que obviamente não necessita de divulgação pública: o reforço da repressão policial…

Os incidentes do 1º de Maio em Setúbal, com disparos e feridos numa manifestação pacífica (até à chegada da polícia) não é um acontecimento isolado fruto de algum excesso de zelo.

Pelo contrário, a atitude policial é inspirada e comandada por uma hierarquia que recebe ordens directas do poder político para "dar o exemplo", usar de mão pesada contra manifestações de descontentamento social.

Este capitalismo selvagem que nos governa sabe perfeitamente que as medidas de verdadeiro terrorismo social e extorsão sobre os mais pobres, vai conduzir inevitavelmente à eclosão de expressões de revolta de quem sofre na pele tais medidas.

Usar a repressão para assegurar a perpetuação da injustiça, foi sempre a respostas da oligarquia dominante em Portugal. O medo sempre foi uma arma fundamental.

Hoje atinge-se manifestantes acusando-os de anarquistas, amanhã outros argumentos serão encontrados para dirigir a repressão policial contra qualquer um que ouse vir para a rua expressar o seu descontentamento.

O pacote do FMI/BCE contém uma cláusula que obviamente não necessita de divulgação pública: o reforço da repressão policial…

Há 100 anos em Setúbal, a recém-criada Guarda Republicana matava uma operária conserveira e um operário, durante uma greve na cidade. Foram os "fuzilamentos de Setúbal" e marcaram a ruptura entre o operariado e uma República que esquecia os valores republicanos.

Hoje, quando nos querem voltar a impor os valores do capitalismo do século XIX, temos de honrar a tradição de rebeldia desse movimento operário da 1ª República e dizer não a uma sociedade baseada na injustiça e no medo.

Sobre o/a autor(a)

Professor e historiador.
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