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Três toneladas de corrupção

Lai Xiaomin, preso em 2018, foi condenado à morte e executado há dias, a 29 de janeiro (a China, como os EUA, é um dos países que ainda aceita e promove a pena capital). Não é o primeiro caso de corrupção de um dirigente chinês de topo.

Em anos recentes, vários membros da direção do partido foram acusados de corrupção: entre muitos outros casos, destacam-se os de Zhang Yang, que chefiou a comissão militar do Comité Central e que se suicidou quando investigado; de Sun Zhengcai, que dirigiu o partido em Pequim e foi ministro e membro da comissão política, condenado a prisão perpétua, e de Bo Xilai, ministro e também membro da comissão política, condenado a prisão perpétua. Xiaomin, no entanto, não era um mero funcionário, era um dos representantes destacados da casta financeira que tem feito carreira na China nas últimas décadas. Dirigia a Huarong Asset Management, um grupo financeiro do sector público especializado em crédito de risco a empresas viradas para o investimento externo. Os episódios do seu julgamento, revelados pela imprensa chinesa, verdadeiros ou falsos, indicam como as autoridades usaram o caso para efeitos de demonstração: o condenado teria dezenas de casas e numa delas terão sido encontrados 1,8 mil milhões de yuans (300 milhões de euros), três toneladas de notas e outros objetos.

Um dos investimentos de Xiaomin chegou a Portugal: foi ele quem financiou a HNA, uma empresa de aviação que foi parceira de Neeleman na TAP, como também se destacou na compra de partes do Hilton e do Deutsche Bank. Aliás, é de notar que o presidente da HNA apareceu morto três meses depois de o financeiro ter sido preso e a empresa faliu entretanto. Alguns concluirão que a justiça funciona. Também se poderá dizer que a acumulação de capital é mais do que três toneladas de notas e bibelôs.

Artigo publicado no jornal “Expresso” a 12 de fevereiro de 2021

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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