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Transformar os transportes coletivos nos Açores

É fundamental promovermos o transporte coletivo como verdadeira alternativa ao transporte individual. Mas para isso é essencial tomar medidas que produzam uma profunda transformação no setor.

Os transportes coletivos terrestres foram vistos, pelos sucessivos governos regionais, não como uma solução de mobilidade mais económica, eficiente e sustentável ambientalmente mas como a solução de recurso para quem não tem recursos para adquirir viatura própria. Essa visão leva a que não se invista no setor e que, consequentemente, este tenha cristalizado no tempo.

É certo que os Açores são constituídos por ilhas de reduzida área, pequenos aglomerados populacionais e baixa densidade populacional. Isso levanta problemas que não são simples de resolver. Mas não significa que se abdique de encontrar soluções adaptadas à realidade local.

É fundamental promovermos o transporte coletivo como verdadeira alternativa ao transporte individual. Mas para isso é essencial tomar medidas que produzam uma profunda transformação no setor. Algumas podem ser tomadas por via legislativa, outras estão nas mãos de quem governa. Enumero algumas.

1 - O problema do preço. Os transportes coletivos nos Açores são muitíssimo caros tendo em conta a realidade dos rendimentos dos residentes. Mesmo os chamados “passes sociais” podem custar largas dezenas de euros por mês. Fornecer um mau serviço por um elevado preço desincentiva a utilização.

2 - A ausência de articulação. Desde o famoso Plano Integrado de Transportes que se fala da articulação entre transporte interurbano, urbano e marítimo. Desde então que nada avançou. Algo tão simples como bilhetes e passes que possam ser utilizados em qualquer transporte, nunca passou do papel. Como não estamos a falar propriamente de algo tão complexo como engenharia espacial, só pode ser por falta de vontade política.

3 - Abandonar a desatualizada lógica de “carreiras” ou percursos. Para aumentar muito a utilização dos transportes coletivos é fundamental a existência de passes por zonas sem limites de utilização diária. Que sentido faz alguém que vive na Lagoa, em São Miguel, e que queira se deslocar diariamente para a Ribeira Grande, ter de comprar 2 passes - 1 entre Lagoa e Ponta Delgada e outro entre Ponta Delgada e Ribeira Grande, com custos que ascendem aos 100 euros por mês?

4 - Adaptar a frota à realidade local e promover a transição energética. Nem todos os autocarros que circulam nas nossas estradas são adequados às condições das nossas vias ou à procura existente. Adaptar a frota a cada zona e percurso é fundamental para melhorar o serviço e é preciso fazê-lo pensando já no futuro promovendo a transição energética.

5 - Aumentar muito significativamente a procura. Só com o aumento da procura por transportes coletivos, generalizando a sua utilização, é possível criar escala e aumentar a exigência e expectativa dos utilizadores.

É com estes objetivos que o Bloco colocou na agenda os transportes coletivos, apresentando uma proposta de criação de um Passe Mobilidade, com funcionamento por zona, custo máximo de 9 euros por mês e várias isenções, incluindo desempregados, estudantes, reformados e pessoas com baixos rendimentos. 

Através da implementação deste passe e dos conceitos que lhe estão subjacentes será possível promover o início de uma verdadeira transformação do setor para o trazer ao séc. XXI.

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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