No próximo dia 9 de junho, as e os portugueses são, uma vez mais, chamados às urnas. Desta, para a eleição das e dos representantes no Parlamento Europeu. Embora não pareça, nessa mesma eleição estamos a eleger diretamente as políticas que queremos para o nosso país.
Com imenso poder e influência sobre os Estados-Membros que a compõem, a UE tem sido, ao longo dos anos, uma das maiores potenciadoras das desigualdades entre os povos da Europa.
O Tratado Orçamental, sempre utilizado para justificar medidas no sentido do desinvestimento e do desmantelamento do Estado Social, ilustra, precisamente, como as limitações económicas impostas por Bruxelas são utilizadas pelos Governos nacionais para atacar os povos.
Por exemplo, mesmo sem legitimidade para definir medidas no âmbito da Saúde e da Educação (cabe aos Estados-Membros organizar e definir políticas nestas áreas), a UE acaba por, indiretamente, ter impacto nas decisões que são tomadas, dado que tem palavra no que toca a limitações e metas orçamentais.
Como este, há muitos outros aspetos que reforçam a necessidade de construir uma Europa diferente - uma Europa que seja, verdadeiramente, dos povos, com um projeto de futuro que sobreponha a vida aos lucros, a paz à guerra e o clima às empresas.
A desistência da aplicação e defesa de políticas para o clima efetivas, que permitam responder às pessoas e à crise climática que enfrentamos, ou a aprovação do Pacto das Migrações, que promove a Europa-fortaleza que fecha as portas a quem foge da fome e da guerra, são apenas outros exemplos de como a UE, enquanto Instituição, percorre um caminho cada vez mais perigoso.
É hoje uma realidade assente que a hegemonia liberal que está no cerne da fundação da UE se encontra em falência. O falhanço do consenso liberal, hoje liderado pelo PPE (que PSD e CDS integram), S&D (a que o PS pertence) e a família liberal do RENEW, parece alcançar o seu pináculo nos dias de hoje, em que o desenvolvimento é medíocre, o valor do trabalho nos rendimentos está cada vez mais reduzido e as desigualdades aumentam a um ritmo galopante.
Ao mesmo tempo, por toda a Europa, a extrema-direita ganha cada vez mais força e a família parlamentar do PPE vê estas forças reacionárias como potenciais aliadas. Em vários Estados-Membros, a direita (dita tradicional) tem tido bastante dificuldade em aguentar a ascensão da extrema-direita, levando a que, para disputar eleitorado, assuma parte do seu discurso e narrativa. Rapidamente, em nome de chegar ao poder a qualquer custo, qualquer linha vermelha é ultrapassada.
Assim, não é então de estranhar o porquê desta aliança aparentemente inusitada. De forma a garantir a Presidência da Comissão Europeia e, em simultâneo, agradar os várias forças nacionais que integram a sua família, o PPE vira ainda mais à direita, mudando posições para agradar e cair nas boas graças de figuras como Meloni, a primeira-ministra neofascista de Itália.
Perante tudo isto, é necessário garantir uma alternativa de esquerda que esteja, efetivamente, ao serviço dos povos. É fundamental promover uma política verdadeiramente socialista que responda aos problemas e necessidades do povo, tanto em Portugal como na UE. Uma alternativa que construa uma Europa de futuro para todas as pessoas, que ponha a vida à frente do lucro e que lute por uma vida boa para toda a gente.
No próximo domingo, dia 9, esta alternativa vai a votos. O voto por uma Europa da paz, da igualdade e da justiça climática, por uma Europa que respeite quem trabalha e trabalhou durante a sua vida, é um voto no Bloco de Esquerda.
Artigo publicado no jornal Barcelos Popular a 6 de junho de 2024