Estamos em crise. O orçamento é vital para o país, a pátria e a nação. Os centrões assumem pose de estado. Governo e PSD decidem brincar durante uns dias para salvar a face. Têm equipas, nomeadas, com ministros e ex-ministros, com pompa, muita circunstância, entram e saem, combinam e descombinam, sorriem, não sorriem, deixam assessores à porta, mandam recados, atrasam reuniões e, muitas outras coisas, deliciosas, absolutamente deliciosas. A comunicação social rejubila. Todo um monumental chafurdanço sobre aquilo que já toda a gente sabe que vai acontecer: o orçamento é mau, péssimo e horrível e... o PSD vai aprová-lo. Parece que o país foi entregue a uma telenovela de segunda por falta de melhores actores e ainda nos tentam vender a coisa em primetime sem hipótese de mudar de canal.
E agora? Com tudo isto Passos Coelho reza por algo que o retire do buraco onde se encontra. Tem a esperança vã de que as 6 propostas que o obrigaram a submeter a aprovação do governo lhe permita sobreviver na sombra de Cavaco até às presidenciais. Talvez depois o deixem também ser primeiro-ministro. E com o cadastro que o PSD tem talvez isso chegue mesmo a acontecer, nenhum dos primeiros-ministros que produziu primam pelo mérito político.
José Sócrates por seu lado espera ainda que lhe surja uma hipótese de acabar com isto tudo. Não tem alternativa. Ele sabe que o próximo ano o vai desgastar. Vai ser o ano da recessão dos seus PECs, do seu orçamento e da sua miséria. Já há muito que Sócrates não existe para além do próprio gabinete e a mão de ferro que o seu grupo mantém sobre a máquina interna do PS muda de dono assim que a deixarem. Só o chumbo do orçamento, a demissão forçada e a dissolução da assembleia o salvam deste triste destino.
De resto nada explica esta opereta de mau gosto.
