A sustentabilidade está insustentável

porAntónio Lima

09 de setembro 2025 - 11:54
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A ausência de planeamento, de preparação e de mitigação dos efeitos negativos causados pelo enorme aumento de visitantes no verão é evidente.

Tantas vezes ouvimos falar de sustentabilidade e de turismo sustentável que o termo acabou por perder o sentido.

Nestas 9 ilhas, o verão traz à tona sinais da insustentabilidade do nível de crescimento do turismo que atingimos. A ausência de planeamento, de preparação e de mitigação dos efeitos negativos causados pelo enorme aumento de visitantes no verão é evidente.

Dou alguns exemplos que mostram que governo, autarquias e muitos empresários só pensam em receitas. O resto resolve-se embrulhando “sustentabilidade” nos discursos.

Nas Flores, seis anos depois do furacão Lorenzo, sem porto concluído e com a população flutuante em máximos, os comerciantes queixam-se de rutura de stock agravada pelo aumento da procura.

No Pico, o município de São Roque tenta evitar a rutura de abastecimento de água que aconteceu no ano passado devido ao aumento enorme da população flutuante.

Em São Miguel, na auto-intitulada “capital do Surf”, a Ribeira Grande, entrar na água da praia do Monte Verde é uma lotaria, com risco de contrair infeções devido à contaminação da água, semana sim, semana não.

Mais ao lado, em Rabo de Peixe, os turistas e locais nem podem entrar na restauração local, tal é o cheiro proveniente da indústria conserveira. Imagine-se quem lá vive há décadas, paredes-meias com a dita fábrica.

Nas Furnas, milhares de turistas rumam às águas termais em locais privados ou concessionados, quase sem estacionamento, e toda a via pública fica ocupada por viaturas de aluguer, sem que os residentes tenham onde estacionar. E os preços das casas são astronómicos, aqui e em toda a região!

Nas Sete Cidades, o barulho ensurdecedor dos quads, buggys e outros veículos ruidosos torna-se numa desagradável frustração para qualquer pessoa que imagine um local onde se vive em harmonia com a natureza.

E não esquecer a urgente necessidade de regular, informar dos perigos e garantir meios de salvamento nas margens das lagoas das Sete Cidades e das Furnas, que diariamente têm mais gente na água a praticar desportos náuticos ou a nadar do que muitas praias, embora seja proibido nadar e não se veja sinalização! As duas trágicas mortes que ocorreram este verão nas Sete Cidades são um sério alerta para os responsáveis agirem!

Não é possível concluir outra coisa: quanto mais se usa a palavra sustentabilidade, mais cresce um modelo de turismo insustentável que maltrata o mundo natural e as pessoas.

António Lima
Sobre o/a autor(a)

António Lima

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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