As notícias recentes do assédio generalizado, na indústria cinematográfica, levantaram “poeira” e deram espaço para que o machismo subisse o tom de voz. Tendo sido dias de verdadeiro gáudio machista.
As redes sociais foram invadidas com insultos de tal ordem que deveriam envergonhar toda e qualquer pessoa. Às mulheres assediadas tudo lhes foi questionado, criticado e ridicularizado: o timing, as roupas, as provocações, etc.
Só a razão para que tal tivesse acontecido é que não foi devidamente esmiuçada. Poucas foram as pessoas que se interessaram em questionar o facto dos homens se sentirem à vontade para utilizar o assédio como moeda de troca para que mulheres tivessem a oportunidade de revelar o que valiam (e valem) como atrizes.
Este foi um caso concreto, mas quantos mais não existem? Quantas não são as mulheres que são subjugadas aos impulsos sexuais dos homens?
Na verdade, são frequentes as mensagens da presença evidente do machismo com as quais nos deparámos. Quantas vezes ouvimos que a culpa de uma violação ou de uma agressão é da mulher? “De que é que ela estava à espera com um decote daqueles?”; “Como saiu de casa sem deixar o jantar pronto para o marido?”. Tudo serve à legitimação do ato.
Estes são exemplos que clarificam a necessidade do feminismo, que, por si só, revela o quão injusta tem sido a sociedade para as mulheres. Se necessitamos do feminismo é porque não existe igualdade entre as mulheres e os homens. É porque às mulheres foram-lhes atribuídas funções que as reduzem à reprodução e a cuidadoras. Cuidadora dos filhos, cuidadora do marido. Já a filha, reproduzindo os comportamentos da mãe, arruma o seu quarto e o do irmão, perpetuando estes comportamentos no tempo.
O feminismo é mais do que querer a igualdade nos salários, do que a definição de quotas, do que a feminização nas decisões políticas (temos os exemplos de Marine La Pen, Angela Merkel ou Theresa May que não romperam com o poder patriarcal), do que os cargos nas administrações de empresas. É isto e muito mais. É não permitir que a mulher seja tida como ser subalterno!
É romper com o sistema patriarcal - alterando as formas estruturais do poder funcionar - que permite o sentimento de impunidade a qualquer atentado contra a mulher, que as relega para um segundo ou terceiro plano, que permite e fomenta a opressão. É romper com a ideia de que são menos produtivas e competentes do que homens, que por terem um útero engravidam, o que clarifica a associação entre o capitalismo e o machismo: o lucro.
Embora com lutas já alcançadas, despatriarcalizar a sociedade é ganhar uma vitória que devemos às gerações anteriores e às vindouras.
O tempo anda para a frente e é a única coisa que não podemos subjugar. E, por isso mesmo, a luta continua.
Cumprimento todos os homens que partilham dos ideais do feminismo e que não o temem, pois só mesmo o machismo pode recear a igualdade que o feminismo preconiza.
Artigo disponível em acores.bloco.org