Os 420 trabalhadores portugueses da base das Lajes que trabalham para as forças norte-americanas não receberam três dias de salário e estão em risco de não receber a quinzena seguinte, uma vez que recebem os seus salários a cada 15 dias.
Três dias de salário fazem muita falta, principalmente para quem tem salários mais baixos. E a expectativa de não receber o próximo salário é um grave cenário com que centenas de famílias se confrontam. Aos trabalhadores e trabalhadoras manifesto toda a solidariedade.
A situação denunciada pelos representantes dos trabalhadores deve-se ao bloqueio orçamental nos EUA. Mas não estamos nos EUA e essas regras não se aplicam em Portugal. No passado nunca os salários dos trabalhadores portugueses falharam em situações idênticas. É uma medida tomada totalmente à margem do acordo bilateral de cooperação e defesa entre Portugal e os EUA e da lei portuguesa.
Nos EUA, Trump deu ordens para pagar os salários aos militares para não deixar insatisfeitos aqueles que têm as armas. Os trabalhadores portugueses da base não tiveram o mesmo tratamento.
O governo regional emitiu uma nota de imprensa que informava do envio de uma carta do vice-presidente do governo regional dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros, com data de 15 de outubro, a solicitar a sua intervenção, ao mesmo tempo que reconhece e cito: “(...) que o recente shutdown do Governo dos Estados Unidos possa ter impactos temporários (...)”.
Esta carta é o retrato da inação e da submissão. Inação porque surge dois dias depois de ter sido denunciada a situação pelos trabalhadores e só depois de ter sido entregue no Parlamento uma proposta do Bloco de Esquerda a exigir a intervenção imediata do governo regional e do governo da República. Proposta que foi aprovada, mas contou com o voto contra do PSD, CDS e PPM, que não ficaram ao lado dos trabalhadores e dos Açores.
Submissão porque, ao reconhecer que o “shutdown” nos EUA pode ter impactos nos Açores, Artur Lima admite a legitimidade dessa ação e desvaloriza a gravidade do incumprimento.
Do ministro Paulo Rangel, temos apenas um pesado silêncio, que certamente será quebrado quando a situação for desbloqueada.
Precisamos mesmo de governos que, nos Açores e na República, coloquem os direitos dos trabalhadores portugueses da base das Lajes, assim como os interesses dos Açores e do país, em primeiro lugar.