Há dois milhões de pessoas que prometem invadir a célebre base americana Área 51 no próximo dia 20 de Setembro. É uma jura de rede social e pode bem ficar reduzida às cinzas que o Facebook deixa por defeito quando é operado por gente aparentada de ET.
Os extraterrestres das redes sociais estão mais velhos, afastaram a frequência dos filhos para o Instagram mas, ainda assim, não desistiram de libertar os irmãos. E é isso que prometem fazer na base militar americana no Nevada: libertar os "aliens" que lá estão aprisionados desde a queda da nave alienígena em Roswell, Novo México, em 1947. "Se corrermos juntos, podemos mover-nos mais depressa que as balas", garantem. E nós ficamos a pensar que o segredo compensa no que toca ao misticismo e às oportunidades. Desde que nada se saiba, tudo se torna possível.
E é na ignorância que aposta, tantas vezes, o poder político. Quando se sabe que há um apagão no Ministério das Finanças onde vários organismos deixaram de publicar relatórios e boletins estatísticos a que estão obrigados a título de prestação de contas, saúda-se a clarificação do ministro das Finanças através do Twitter acerca da retirada da sua candidatura à liderança do FMI. O presidente do Eurogrupo procura arregimentar o consenso na votação que hoje tem lugar, numa altura em que - ao contrário do que habitualmente sucedia - se exigirá uma maioria qualificada de votos e não haverá lugar a um consenso. Centeno em contraciclo agregador com vários dos organismos que tutela, sem agregar contas desde 2011 e 2013. Não é um privilégio desta legislatura. É uma conformidade com os segredos e os apagões que, nos contribuintes individuais médios, são considerados intoleráveis pela Administração Fiscal.
Nada se apaga das redes sociais a não ser que a rede social se apague. E ainda assim, fica todo um lastro. Em alguns casos, a felicidade é devida porque há momentos de humor que devem ser preservados para sempre neste ameno verão português. Num país que distribui golas antifumo que afinal não inflamam mas apenas perfuram com o fogo, é de louvar o esforço do CDS para descolar dos 3% que lhe são atribuídos pela sondagem mais recentemente conhecida. A ascensão do CDS pode bem fazer-se à custa da comédia e das vagas adicionais para pagantes ricos nas universidades públicas que esta semana Assunção Cristas defendeu. Mas é necessário que as eleições legislativas se aproximem do "Levanta-te e ri" para a levar a sério quando refere que após pagar 12 500 euros pela entrada, estes alunos devem ser abrangidos pela isenção de propinas. Há um CDS a aproximar-se rapidamente da Área 51 e ninguém avisou os extraterrestres.
Artigo publicado no Jornal de Notícias a 02 de agosto de 2019.