Platão é considerado o pai da filosofia política ocidental. Na sua obra “A República”, no capítulo VII, a “Alegoria da Caverna”, através do diálogo metafórico entre Sócrates e Glauco, temos uma analogia entre a luz do sol, a luz do fogo da caverna e a necessidade de conseguirmos interpretar a realidade e combater a ignorância. Platão sabia que através das ilusões e sem princípios filosóficos fortes, pessoas com poder, podem manipular a humanidade. Por isso, é conhecido o pensamento de Platão que demonstra que aqueles que não gostam da política acabam por serem governados pelos que gostam.
De facto, assistimos frequentemente a queixumes e azedumes, por quem nada liga à forma como se deve governar. Reconheço que, o comportamento de muitos políticos, não é abonatório, mas também acredito que o maior partido, a abstenção, é a grande autoestrada para os que, de forma continuada, fazem da política uma jangada de interesses. Se mais pessoas seguissem o pensamento de Platão, o mais certo seria termos mudanças e um sistema político mais coerente e exigente – a verdadeira Politeia.
Ouvimos falar muitas vezes na redução do número de deputados, que o povo elege, como forma de colocar a democracia em saldos e respondo sempre: Não tenho problemas com os que são eleitos e determinam a governação; o meu aborrecimento é com os que, não sendo eleitos, povoam grupos parlamentares, ministérios e autarquias. Os “famosos” e dispendiosos, jobs for the boys, proliferam com privilégios injustificados, viabilizados por PS, PSD e CDS.
Os que escolhem ser apolíticos, não entendem que tem de existir um modelo de governação e que isso implica, mais participação e exigência, para termos melhor democracia e melhores escolhas. O caso dos deputados ausentes, cuja presença estava garantida por colegas de bancada, não é de agora. Todos os anos, saem dados sobre a assiduidade e produtividade dos deputados… Continuem a dizer que não percebem e que detestam a política, pois os oportunistas agradecem!
As “panelinhas do poder”, dão sempre uma “facadinha” nos eleitores. O PS deu a mão ao PSD e a supremacia armadilhada de advogados no parlamento, continua a garantir às elites, o conforto institucional. Depois, há sempre o retorno, com uns prendados lugares em Conselhos de Administração, àqueles que terminam os seus mandatos, sem beliscarem o poder económico, que é quem, verdadeiramente manda no país. E ainda assistimos a PS, PSD e PCP a impedirem o acesso aos rendimentos dos políticos…
Com Refletindo um pouco é possível perceber que a abstenção não é sinónimo de crítica, mas sim, da falta de responsabilidade e coragem…os impostos dos portugueses pagámos a falência dos bancos privados e agora que dão lucros, nem os devidos impostos pagam. E penalizamos a Saúde, a Educação e ainda temos de engolir em seco, com o aumento da mortalidade infantil. Mas o caso da CGD, também, deixa o setor público envolvido num lamaçal político com abusos e esquecimentos gritantes; os casos de Armando Vara, Victor Constâncio e Carlos Costa são um bom exemplo.
Não é uma surpresa, termos ficado a conhecer melhor os cozinhados da EDP, nos escritórios dos ministros e com um parlamento dominado por poderosos escritórios de advogados, que tudo aprovam para roubar, desde o cidadão que quer viver, ao comerciante que paga fortunas pela fatura da luz.
Um desafio interessante para os apolíticos e críticos dos políticos: Informem-se e com o poder do voto premeiem quem trabalhou e, castiguem aqueles que usaram o seu poder para defenderem interesses danosos às pessoas e ao país. Como é sabido, Bruxelas manda na Europa e, saber o que defenderam os eurodeputados, é um desafio de quem é responsável. Quem pensa que as eleições europeias não têm importância, está muito enganado… A jovem sueca Greta Thunberg, avisa-nos que "nestas eleições Europeias de 2019, nós vamos votar” pelas condições de vida futura da espécie humana".
Comecei com Platão e vou terminar com Bertrand Russel, um filósofo ativista, que foi preso por atividades pacifistas e, de quem os ingleses deviam tirar ensinamentos, para perceberem as loucuras sobre um Brexit. Este nobel da literatura que defendeu a emancipação feminina e a democratização da coragem, não deixou de elogiar as corajosas sufragistas, que conquistaram o direito de voto para se poderem defender. Refletindo um pouco é possível perceber que a abstenção não é sinónimo de crítica, mas sim, da falta de responsabilidade e coragem…
Artigo publicado em podcast, em radioportalegre.pt/index.php/desabafos/paulo-cardoso.html a 19 de abril de 2019
