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A raposa e a galinha!

Voltemos aos Mello! Prossegue em Braga o reinado dos "excluídos" do Amadora-Sintra. O Hospital de Braga foi auditado. Consta que não terá acreditação total. Aliás, durante o próprio processo de auditoria, a luz, por azar, resolveu falhar, deixando uma criança anestesiada na máquina de Ressonância Magnética, tendo o exame ficado a meio...

Há alturas durante o dia, sobretudo nos turnos fora do horário diurno, em que há apenas um maqueiro para todo o hospital - imaginemos o tempo que levará apenas uma pessoa a transportar um hospital inteiro! Na Medicina Física e da reabilitação começaram a falhar as ajudas técnicas a doentes que precisam de uma cadeira de rodas, de canadianas, entre outras coisas. A única terapeuta da fala que o hospital tinha entrou em licença de maternidade e os Mello não contrataram outra - lá se foi, durante meses, a reabilitação dos doentes afásicos.

Histórias e estórias que revelam o ambiente criado por um grupo de 16 gestores que ganham mais do que qualquer outro elemento daquele hospital (por mais anos que lá esteja...) e cujos patrões são importantes senhores da medicina privada que, como se sabe, só beneficia com a derrocada do SNS. É elementar, se eu fosse uma galinha que mandasse numa capoeira, iria eu contratar uma raposa para gerir a capoeira no meu lugar??

O orçamento deste ano para a saúde não ajuda. Aliás, desajuda. E o congelamento nos salários dos funcionários públicos é paradigmático. O SNS é, cada vez mais, abandonado por médicos que se deslocam para o Privado, ou em tempo total ou em tempo parcial. Os que ficam vêem o peso do seu trabalho diário a aumentar - mais horas extraordinárias, maior o rácio de doente/médico, vêem os colegas a celebrar contratos com as administrações EPE que os coloca fora da função pública ao mesmo tempo que lhes dobra o ordenado. Vêem os hospitais a ficarem velhos e ninguém a mexer uma palha por isso. E no meio disto tudo, aumenta o trabalho, aumenta a precariedade, aumenta a desigualdade inter-pares, aumenta a exigência de cuidados e só não aumento o ordenado.

Sobre o/a autor(a)

Médico neurologista, ativista pela legalização da cannabis e da morte assistida
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